O Daniel Scola me disse que está lendo 150 páginas por dia. De livros, claro, storys no Instagram e fios no Tuíter não contam. Fiquei pensando: aí está uma coisa que deveria ter feito. Deveria ter contado as páginas que li. Seria interessante ver o meu scout. Não só em páginas. Um dos meus sonhos é um dia ver uma piscina cheia com toda cerveja que bebi na vida. Eu olharia para aquela piscina imensa e sentiria orgulho. Depois, me jogaria nela.
Infelizmente, meu departamento de estatística não é dos melhores. Meu amigo Admar Barreto é o contrário. Ele guarda canhotos de cheque do passado remoto, ele acumula comprovantes de pagamento do cartão de crédito, ele sabe quantos litros de vinho branco consumiu no verão de 2014. O Brizola também era assim. Havia um quarto, no apartamento do Brizola em Copacabana, cheio de guardados da vida dele. Ele não botava nada fora, nada, nem papel de chiclete. Um bom biógrafo se divertiria lá.
Quais são os números da minha vida? Um amigo meu fazia, bem organizada, a lista das mulheres que teve, com nomes, datas e anotações peculiares, como: “No segundo encontro, ela veio de rabo-de-cavalo. Aí percebi que estava desinteressada”. Vejo na personalização que meu amigo fazia um certo relatório emocional. É menos machista, suponho, do que caras como o Renato, que bravateia ter se refocilado com cinco mil fêmeas da espécie, ou como o ator Warren Beatty. Esse é campeão – uma biógrafa computou que ele fez sexo com mais de 12 mil mulheres diferentes. Doze mil! Se Warren não repetisse mulher, levaria quase 40 anos nessa atividade.
Mas esse tipo de contabilidade é mesmo machista, sei que é. E, em minha defesa, reafirmo que nunca contei mulheres. O que tenho agora, para me alentar, são apenas lembranças. Nem todas belas, nem todas doces, mas são lembranças, e estão disponíveis para meu uso, até que a senilidade as apague.
Voltando aos livros, que é um território menos pedregoso, o fato é que sempre fui indisciplinado nas minhas leituras, a ponto de, muitas vezes, comprar um livro que já li. No entanto, graças ao Scola, relacionei, pela primeira vez, os livros que sorvi em 20 dias de férias. Foram cinco. Acabou sendo ótimo, porque agora posso fazer algumas sugestões para você, ávido leitor. E o primeiro livro que indicarei é...
Espere. Antes de fazê-lo, preciso dizer algo que me causou estranhamento, nessas férias. É que, sempre que a gente se afasta do trabalho ou da cidade por um período, tem a impressão de que, quando voltar, tudo estará diferente. Aí a gente volta e tudo está igual. Só que, desta vez, não foi o que aconteceu. Desta vez, o mundo mudou em 20 dias. Foi o tempo que a Ômicron grassou e vicejou. E, como ela é muito mais contagiosa e muito mais fraca, sobretudo graças à ação das vacinas, o que sinto agora, além dos calores de janeiro, é esperança. As pessoas estão pressentindo que a peste vai passar em breve. E elas estão certas. O Mal passará, e, para nós, que tanto sofremos, será só lembrança, como as que guardamos das nossas antigas aventuras.
O livro sobre o qual quero discorrer é um pouco sobre isso, sobre essa nostalgia. Mas o espaço acabou, tudo um dia acaba, e terei deixar para a próxima crônica. Não se irrite e lembre-se dos orientais que dizem: a paciência é a maior das virtudes humanas.