Churchill dizia que a política é a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem e no ano que vem. E ter a habilidade de explicar depois por que nada daquilo aconteceu.
O jornalismo opinativo também.
Escrevi, quatro meses atrás, que o Grêmio não ia cair para a segunda divisão. E, no Sala de Redação, antes do jogo contra o Flamengo, no primeiro turno, disse que o Grêmio venceria e, mais, se livraria com facilidade da zona de rebaixamento.
Preciso ter a habilidade de explicar agora por que só a vitória contra o Flamengo aconteceu. Sim, bem sei que o Grêmio ainda tem chances de se escapar da Série B, se uma fieira de milagres ocorrerem. Mesmo assim, mesmo que escape, errei nas previsões. Porque, pelo time que tem e pela situação financeira do clube, deveria ser tranquilo para o Grêmio escalar até o meio da tabela. Foi este o meu cálculo.
Está certo que há anos venho dizendo que o time do Grêmio é ruim, mas, quando citava essa ruindade, falava em relação aos objetivos do clube de conquistar grandes títulos, de voltar a ser campeão do mundo. Nunca imaginei que o descontrole fosse tamanho, a ponto de enterrar o time nas quatro piores posições do campeonato.
Mas foi. O descontrole foi brutal. Nos próximos dias, confirmando-se a queda, será a primeira vez que um time grande, com os salários em dia, com jogadores caríssimos e com as finanças equilibradas consegue despencar para a segunda divisão.
Quando escrevo “consegue”, quero dizer exatamente isso: que a derrocada do Grêmio é uma façanha ao contrário. É como se os dirigentes do clube se esforçassem ao máximo para liquidar com o time. Houve um acúmulo amazônico de decisões erradas, de trapalhadas e de inversão de valores, sobretudo esse último defeito: inversão de valores.
Existe um termo bíblico que se ajusta ao Grêmio dos últimos anos e que pode se ajustar a qualquer pessoa ou empresa: Mamom.
Mamom é a cobiça, Mamom é a avareza, Mamom é a ganância. É o amor ao dinheiro. Em suas palestras, Jesus ensinava: “Ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou vai amar o primeiro e desprezar o outro. Ninguém pode amar a Deus e a Mamom”.
O deus de um clube de futebol é, precisamente, o futebol. O dinheiro é importante para fazer com que as coisas funcionem, mas só para fazer com que as coisas funcionem. Se ganhar dinheiro se torna o objetivo do clube, aquilo não é mais dinheiro; é Mamom. O Grêmio se desvirtuou, tentou servir a dois senhores, e há 2 mil anos sabemos que isso é impossível. Foi assim que o Grêmio sofreu seu terrível revés. E foi assim que fui arrastado ao erro. Não é um consolo, é uma explicação.