Estou de volta, de novo. Inteiro, ainda que me faltem pedaços. E espero que, como diria o Rei, agora pra ficar.
Na minha ausência, não sei se você percebeu, ausentei-me mesmo. Não tratei de nada que não fosse tentar melhorar minha própria condição física. O que fiz não por decisão, mas por imposição da contingência. Um valor mais alto se alevantava, como diria o poeta caolho.
Nesses momentos, você percebe como tudo é realmente menor do que parece ser. Porque, quando você sente dor, é só a dor que importa, todo o resto do planeta e da Humanidade se torna secundário. Mas aí você vai se curando, vai ficando bom e, de repente, esquece o sofrimento e os dramas do dia a dia crescem. Ou seja: a vida está bem quando você se preocupa com as coisas mundanas. Você está inquieto com o que sai no Jornal Nacional? Está contente com o resultado do Gre-Nal? Está tudo certo com você.
Eis uma medida de felicidade. A pessoa que passa o dia inteiro pensando nos problemas do Brasil ou no seu time, essa é uma pessoa feliz.
Na verdade, é ainda mais do que isso. Ou, por outra, ainda menos. O que interessa, de fato, é o comezinho, o trivial comum. Porque a vida deixa de fazer sentido quando as coisas pequenas deixam de ter graça.
O oposto da depressão não é a glória. O oposto da depressão é o prazer que se sente ao se tomar um bom café da manhã ou assistir a um filme de detetive.
Churchill tinha depressão. Ele e Isaac Newton, Einstein, Lincoln e outros tantos famosos e anônimos. Churchill chamava a doença de seu “cão negro”. Escrevia cartas para a mulher: “Quando o cão negro voltar, acho que vou precisar de um médico”. Acho que ele foi o primeiro a dar essa designação para o mal. Depois de Churchill, cão negro e depressão viraram sinônimos. Ele era bom em dar nome às coisas, vide “Cortina de Ferro”.
Mas o que queria dizer é que Churchill teve menos ataques depressivos durante os dias duros da Segunda Guerra. O problema se dava nos dias comuns. Um problema grande, porque você não pode passar a vida inteira salvando o Ocidente dos nazistas.
Mas essa é a notícia alvissareira, leitor: você não tem que lutar contra Hitler, como Churchill; nem descobrir a Lei da Gravidade, como Newton; você não tem que libertar os escravos de uma nação, como Lincoln; nem formular a Teoria da Relatividade, como Einstein. Você não tem de fazer nada de especial para ser feliz. Basta-lhe a alegria da existência digna e mediana de bilhões de terráqueos. A vida na planície é a vida que vale. Ou seja: você não deve reclamar dos seus dias iguais. As semanas são todas parecidas? Jogue suas mãos para o céu e agradeça por essa graça do Senhor. A rotina, meu amigo. Nada mais abençoado do que viver em paz os dias suaves de rotina.