Estava olhando o cardápio de um desses aplicativos de filmes na TV e vi que ali havia um curso de meditação. Pensei que seria ótimo meditar, sempre quis meditar. Dizem que faz muito bem para o corpo e a alma. Que dá uma paz...
As pessoas que meditam, sem dúvida nenhuma, são pessoas calmas. É bonito ser uma pessoa calma. Numa discussão, o outro está alterado, falando alto, gesticulando feito um italiano, e você gruda no semblante sereno um meio sorriso de condescendência. Nem sorri com os lábios, apenas com os olhos. É o sorriso de quem conhece as fraquezas humanas.
É muito irritante discutir com alguém assim. Pois eu seria essa pessoa calma, depois do curso de meditação.
Então, comecei meu curso. Fiquei feliz em saber que o professor havia sido monge budista no Himalaia. Ou seja: uma autoridade.
Buda nasceu ao pé do Himalaia. Era rico, era um príncipe, tinha mulher e filho, mas, um dia, ao sair para as ruas, contemplou a miséria humana e compreendeu que sua vida estava errada. Decidiu mudar. Como? Pela meditação. Contou aos seus monges:
"Antes da minha iluminação, sendo eu mesmo sujeito ao nascimento, meditei sobre a natureza do nascimento; sendo sujeito à velhice, meditei sobre a natureza da velhice. Da doença. Da dor. Da impureza".
Buda meditou para alcançar o Nirvana. Por que não eu?
O problema com o Nirvana é que você só o alcançará quando extinguir completamente a fonte dos seus desejos – Buda ensina que são os desejos os causadores de toda dor. Não foi fácil para ele chegar a essa conclusão. Primeiro, passou por anos de renúncia: vestia-se com roupas feitas dos próprios cabelos, que arrancava pela raiz. Deitava-se em cama de espinhos. Reduziu paulatinamente a alimentação até nada mais do que um grão de arroz por dia. Aí, percebeu que havia certo orgulho naquela mortificação, e viu que o caminho era outro: o não querer. O não ser. O não desejar.
Enquanto o professor falava, no curso, eu pensava nessas histórias de Buda e me afligia, porque não me sinto elevado o suficiente para atingir o Nirvana. Ainda sou tristemente movido por desejos mundanos. Pensar no filé acebolado da Santo Antônio me faz salivar e, outro dia, assisti a um filme antigo da Monique Evans e fiquei perturbado. Eu amava Monique Evans, nos meus tempos de adolescência. Aquelas pernas longas, aqueles seios pequenos – nunca me importei com seios pequenos, se você quer saber. Mas o que mais me tocava, em Monique, era a malícia que reluzia em seu rosto de boneca. Monique Evans era uma mulher cheia de promessas recônditas, cheia de insinuações de prazeres. Por isso, ao ver agora filmes dela lá dos anos 1970 ou 1980, estremeci. E entendi que a malvada carne ainda me comanda. Preciso meditar.
Preciso meditar!
Bem. Assisti ao curso do professor monge. Tenho meditado, desde então. Fecho os olhos, tento limpar a mente, presto atenção à minha própria respiração, mantenho-me quieto como se estivesse em estado de reticências... Espero logo submergir na paz e me tornar uma pessoa eternamente calma... muito calma... é bonito ser uma pessoa calma. Mas, quando estou quase lá, imagens começam a se formar diante dos meus olhos cerrados. Coisas da vida secular e profana, coisas que um homem deseja. E afasto esses pensamentos que levam à perdição e me esforço para me purificar no vazio e no nada, e até consigo. Mas não às sextas-feiras. Às sextas, me surgem na mente imagens de copos de chopes cremosos e gelados e dourados como as pernas de Monique Evans nos anos 1980. Assim, a concentração se esfuma, começo a sorrir como qualquer homem imperfeito e ligo para os amigos: "Que tal um chopinho hoje?". Maldição. É impossível meditar às sextas-feiras.