Quando eu era editor de Esportes de Zero Hora, fazíamos reuniões todas as segundas-feiras. Analisávamos as edições anteriores, planejávamos as próximas, debatíamos erros, discutíamos texto e edição. Numa dessas, acho que em 1997, disse para o Diogo Olivier:
— Que tal tu te tornares uma espécie de setorista de Ronaldinho? Esse guri vai virar o Pelé.
O Diogo se entusiasmou com a tarefa e, como combinado, transformou-se em uma espécie de especialista em Ronaldinho. O que acabou sendo ótimo para o jornal, porque, se o Ronaldinho não chegou a virar o Pelé, virou um dos maiores personagens da história do futebol mundial.
Pensando bem, ele até chegou a ser Pelé, durante dois anos. Nesse período fugaz assombrou o mundo, foi único, foi gênio. Há um Grande Mestre de xadrez de quem gosto muito, Rafael Leitão, que compara Ronaldinho a Bobby Fischer. Ambos foram insuperáveis por duas temporadas, e depois se recolheram. Bobby Fischer porque enlouqueceu, Ronaldinho porque queria cometer loucuras.
Quem tramita há muito tempo no mundo do futebol consegue ver alguns fenômenos surgindo no horizonte. O problema é que a maioria não confirma suas próprias alvíssaras. Exemplos: Alexandre Pato, Anderson Show, Bruno Soneca, os gêmeos Diogo e Diego, só para ficar nos gaúchos. Nos anos 70, o Grêmio formou um meia-esquerda que era para ser um Zico, o Tia Joana, esse seu apelido. Ao se profissionalizar, ele pediu que passassem a chamá-lo pelo nome, Renato Lima. Nunca mais jogou nada. Cevo a tese de que, ao perder o codinome, o rapaz perdeu a personalidade.
Pois bem. Agora, no ano da peste, despontou um jogador que, se não era um Pelé, um Ronaldinho ou um Zico, parecia ser algo diferente e especial: Jean Pyerre. Alto, forte, habilidoso e inteligente, Jean Pyerre se candidatava a ocupar com brilho único uma posição do futebol antigo que está voltando ao futebol moderno: a ponta de lança. Porque Jean Pyerre sabe driblar, chutar e até cabecear, sabe meter uma bola por entre as frestas da zaga que desnorteia o inimigo. Ele sabe jogar bola. Mas não sei se sabe jogar futebol. Jean Pyerre dá o passe e fica parado. Ele não ousa, ele não força a jogada, nem abre espaços. Temo que Jean Pyerre vá desperdiçar seu imenso talento. Será que Renato deveria mantê-lo como titular, nas finais da Copa do Brasil?
Não sei se deveria ser escalado. Talvez Lucas Silva ou Darlan colaborem mais com um time que se ressente do trabalho de contenção do adversário. Talvez o Grêmio necessite de mais mudanças radicais: um Thaciano improvisado na lateral direita para dar mais poder de marcação, um Ferreirinha na ponta direita para dar mais poder de ataque. Sei lá. O Grêmio precisa de novidades, nessa decisão. Porque, se não tiver algo novo, os resultados continuarão sendo os velhos.