O Duda Garbi contou, no Sala de Redação, que Renato preteriu Kannemann por David Braz, no jogo contra o Santos, em nome da melhor saída de bola. Segundo a análise da comissão técnica, o Santos havia marcado os volantes do Grêmio e deixado a bola com Kannemann, na primeira partida. Como o argentino não é um virtuose com a bola nos pés, a saída do Grêmio teria ficado defeituosa. Então, David Braz em campo e Kannemann no banco.
Esse raciocínio mostra como a “taticologia” faz mal ao futebol. Números, estatísticas, gráficos comparativos, conceitos dos “taticólogos” se sobrepõem ao óbvio: os melhores têm de jogar.
Muricy Ramalho revelou, certa vez, ter aprendido muito sobre futebol com o nosso Guerrinha, que, certo dia, lhe disse uma única, sábia e imortal frase: “Na dúvida, escala o melhor”.
Renato não tem obedecido a essa máxima. Em nome de supostas vantagens táticas ele renuncia a vantagens técnicas.
Kannemann é mais do que melhor do que David Braz: Kannemann é um símbolo. Ele sabe jogar uma decisão. Sua vontade, sem empenho, sua inabalável concentração elevam o time inteiro. É bem possível que seu rebaixamento à reserva tenha quebrado a confiança do grupo e ajudado no desastre de quarta-feira. Porque a dupla Kannemann e Geromel é o esteio do estilo de jogo do time montado por Renato. Com os dois juntos, tendo atrás deles um goleiro minimamente confiável, o Grêmio pode até jogar sem volantes, como joga atualmente.
Ao não escalar Kannemann, Renato e sua comissão técnica indicaram que eles mesmos não compreenderam bem as razões do sucesso dos times do Grêmio nos últimos quatro anos. Indicaram mais: que não aprenderam com os erros pretéritos: André era escalado devido a razões táticas, por exemplo. O resultado foi o que se viu.
O erro da não escalação de Kannemann é muito maior do que a escalação de André. É um erro gigantesco, profundo. Os acertos de Renato são enormes e ficarão impressos para sempre na história do Grêmio. Mas esse erro também.