Os números da eleição sugerem que o Brasil está voltando ao normal. É uma notícia alvissareira, porque desde o segundo mandato de Lula o país sofre de algo que se assemelha a uma moléstia mental, uma febre terçã, algum mal que produz alucinações e agita o paciente.
Agora, parece que as pessoas estão se acalmando. Rechaçaram os extremos, deixaram o PT num canto da esquerda e os candidatos do Bolsonaro em outro da direita, e se aproximaram, devagar, do centro. A sabedoria do caminho do meio, como dizia Buda.
A maioria ocupar o centro é o natural em qualquer nação. Porque a massa não é de esquerda nem de direita. A massa só quer viver bem, e aí pouco se lhe dá que claudique a onagra ou que o governo seja de neoliberal ou socialista.
Mas é claro que esse desejável estado de bem-estar não é igual em todos os lugares. Depende das necessidades de cada povo. Nos Estados Unidos, se uma pessoa perde o seu emprego numa loja, ela atravessa a rua, caminha de mão no bolso até a loja concorrente e, em minutos, está empregada de novo. As angústias do americano são como pagar a faculdade dos filhos e o preço dos planos de saúde.
No Brasil, os anseios são outros. O brasileiro precisa de emprego para dar casa e comida para a sua família, precisa de segurança para levar as crianças para passear na pracinha nas tardes de domingo, precisa de um sistema de saúde que lhe garanta bons hospitais. O brasileiro precisa do básico.
Isso é o mais terrível, no Brasil: a maioria da população não tem o básico.
Então, se um governo oferece dinheiro às pessoas, elas ficam agradecidas, porque têm a impressão de que pelo menos o básico foi atendido. Foi o que fizeram Lula com o Bolsa Família e Bolsonaro com o auxílio emergencial.
Mas, quando as pessoas enfim percebem que isso não é o suficiente, as ações dos governos começam a ser julgadas com maior rigor. É o que está acontecendo com Bolsonaro. Sua agressividade, seu destempero, sua falta de educação, aliados a uma gestão sem resultados, começam a surtir efeito na alma população. Bolsonaro está sendo empurrado para um escaninho da ultradireita e lá ficará cercado por um punhado de bajuladores que incentiva seu comportamento, mas que é cada vez menor.
Dois anos, em política, é uma vida, mas os movimentos que ocorrem hoje mostram que são grandes as chances de que as forças que estiveram no segundo turno em 2018 sejam derrotadas em 2022. O Brasil está se afastando das extremidades belicosas. O Brasil está em busca da paz.