Como estarão as Cataratas do Iguaçu? Ando preocupado com isso. Semanas atrás, vi uma reportagem de TV sobre as Cataratas. A estiagem fez com que seu formidável fluxo d’água diminuísse e agora o que se vê são apenas fiozinhos brancos escorrendo desanimados pelo despenhadeiro.
Fiquei chateado. Realmente chateado. Até sonhei com as Cataratas do Iguaçu, para falar a verdade.
É que, bem, vou lhe dizer algo sobre as Cataratas do Iguaçu: é um dos espetáculos mais deslumbrantes que vi na vida, e olha que já estive a palmo e meio dos olhos lilases da Yelena Isinbayeva, tão perto que podia lhe sentir o calor doce da pele e o odor de chocolate branco do hálito.
Ah, Yelena...
Mas as Cataratas. Estive lá em 1999, quando cobria a Copa América do Paraguai – no milênio passado, portanto. Os repórteres de Zero Hora éramos eu e o Serginho Villar, o fotógrafo era o Mauro Vieira. Num sábado de folga da Seleção, decidimos que conheceríamos as Cataratas do Iguaçu. Fazia uma linda manhã de sol, com o ar fino que se forma depois de uma noite de chuva.
Confesso que fui sem grandes expectativas. Sabia que uma queda d’água é coisa bonita de se ver, mas entendia, também, que não passava de mais uma das tantas belezas da natureza, como o mar ou a montanha.
Só que não.
Não é assim.
Dizer que fiquei boquiaberto, quando cheguei ao coração das Cataratas, é dizer muito pouco. Não fiquei boquiaberto; fiquei emocionado. Aquela massa d’água poderosa, gigantesca, densa, atirando-se em jorros intermináveis pelo abismo abaixo, produzindo uma espuma branca que saltava em gotas coloridas para todos os lados, nos batendo no peito e no rosto e criando dez, quinze, vinte arco-íris. E o som, meu Deus! Aquele som! Era o ronco da Terra, um bramido que abafava nossas vozes enquanto urrávamos de alegria. Sim, era isso que fazíamos: nós gritávamos, de fascinados que estávamos com aquela manifestação de poder da Natureza. E o mato úmido em volta, e os pequenos bichos que nos rodeavam, e o sol que rebrilhava em cada folha de árvore, em cada pétala de flor, tudo opulento e delicado ao mesmo tempo.
Como foi lindo, aquilo. Tão lindo que pensei: um dia, quando tiver meu filho, vou trazê-lo aqui, para que ele experimente essa sensação única de estar DENTRO das Cataratas. De fazer parte delas. Pois foi isso que senti: parecia que eu e as Cataratas éramos a mesma unidade. Que eu pertencia a elas e elas a mim.
E agora, que enfim tive um filho, e que voltei ao Brasil, agora queria levá-lo lá, quando essa peste passar, e mostrar-lhe aquela glória do mundo. “A glória do mundo é transitória”, diziam os antigos romanos. Mas não essa glória. Essa não pode ser. A glória das Cataratas há de ser eterna. Por favor, digam-me que recuperaram sua glória as Cataratas do Iguaçu.