Onde andará Lilith? A bela e perigosa Lilith, por onde andará?
Meu amigo Carlos Barrios, um dos maiores oncologistas do Brasil, aventurou-se no mundo dos vinhos e produziu um espumante delicioso chamado, exatamente, “Lilith”.
Nome instigante. Lilith foi a primeiríssima mulher. Sua história misteriosa é narrada por livros hebreus apócrifos e por antiquíssimas religiões sumérias e babilônicas, do tempo remoto em que nasceram as civilizações.
Há pistas de Lilith no Gênesis canônico. No primeiro capítulo está escrito, acerca da criação do ser humano, com a força poética típica do Velho Testamento: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou”.
Ou seja: homem e mulher tinham sido criados. Mas, no segundo capítulo, o Gênesis relata: “E o Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda”. Então, Deus fez Adão adormecer, como se lhe ministrasse anestesia, retirou-lhe uma costela e, com ela, compôs Eva. E Adão, ao acordar e vê-la em toda a sua exuberância, exclamou: “Desta vez, sim! É osso dos meus ossos e carne da minha carne!”
Por que Adão disse “desta vez”? Ora, porque houve “outra vez”. Houve outra mulher.
Era Lilith.
Segundo os livros proibidos, Lilith era a mulher mencionada no primeiro capítulo. Só que ela não havia sido feita a partir de uma costela de Adão, ela havia sido formada por pó negro e fezes.
Lilith e Adão tiveram seus dias de regozijo no Paraíso, mas ela não estava contente. O que a incomodava era, basicamente, o sexo. Lilith não aceitava que, durante o coito, ficasse apenas debaixo do corpo de Adão. Ela queria ficar por cima, ela queria variações, ela queria poder ter a iniciativa. Lilit queria tomar suas próprias decisões. Adão, porém, não gostava da ideia, e as discussões entre o casal começaram, a cada dia, a se acentuar. Até que Adão foi se queixar com Deus: “Essa mulher é muito chata!” Deus concordou e foi falar com Lilith, a fim de tentar submetê-la. Mas Lilith era insubmissa, era rebelde. Preferia deixar o Paraíso a acatar ordens. E assim o fez. Foi para a região do Mar Vermelho, onde viveu nas sombras, acompanhada de bichos peçonhentos. Como uma espécie de vingança, Lilith copulou com nada menos do que cem demônios e com eles teve cem filhos. Deus, no entanto, interveio novamente e executou os filhos demoníacos. Rejeitada e anatematizada, Lilith passou a vagar pela Terra em busca do prazer proibido. Se, por acaso, à noite, ela encontra um homem sozinho na cama, dormindo com o peito nu, ela monta sobre ele e o cavalga e se satisfaz diabolicamente.
Uma champanhe com o nome desta mulher-fera, portanto, me parece apropriado. A champanhe é uma bebida de júbilo e gozo, uma bebida de regalo e deleite, uma bebida que Lilith aprovaria. Se você for solteiro e tiver o hábito de dormir sem camisa, talvez, na hora mais profunda da madrugada, a veja chegar do meio das trevas do seu quarto. Ela virá, insinuante e sinuosa, linda e destemida. Ela fará com você o que bem entender. Ela o fará pecar. Então, você será mais uma vítima de Lilith na poeira dos milênios. E por isso vai sofrer. Mas vai gostar.