Li na Zero Hora desta segunda que está sendo fundado um centro de estudos ufológicos em Cidreira. Você sabe o que estuda um centro de estudos ufológicos?
Discos voadores.
Bem. E por que um centro de estudos ufológicos será aberto exatamente em Cidreira?
Resposta: porque os moradores de Cidreira andam vendo discos voadores amiúde.
Agora, a última e decisiva questão: por que tem tanto disco voador em Cidreira?
A resposta trepidante: porque é possível que exista, no céu de Cidreira, uma passagem para outra dimensão. Sério! Essa suspeita foi levantada inclusive por uma série de reportagens do History Channel sobre objetos voadores não-identificados, que é o mesmo que ufos, que é o mesmo que discos voadores.
Em resumo, isso significa que os extraterrestres, quando querem vir à Terra, entram por Cidreira.
Ao ler essa notícia espetacular, pensei: o que estou fazendo, que não estou em Cidreira, com o queixo levantado, procurando discos voadores? Suponho que deveria passar várias noites lá. São poucos os relatos de aparições diurnas de ufos. O que faz todo o sentido: pelo que se sabe, os extraterrestres são discretos, não gostam de ficar se mostrando. Então, é natural que aproveitem as madrugadas para observar a Humanidade in loco sem ser observados. Decidi que Cidreira será o meu destino no verão de 2021, o verão da vacina, o verão das alcinhas erguidas dos biquínis, o verão do ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo.
Tudo isso é muito estimulante. Mas o que mais me deixou enlevado, ao ler essa matéria da repórter Aline Custódio, foi a sua natureza absolutamente objetiva. Porque há matérias cheias de intenções nos sites, nos jornais, nas TVs, nas rádios e nas redes, hoje em dia. Mais: quase sempre, são intenções boas. Notícias que pretendem salvar o mundo, despertando a consciência do leitor para os preconceitos da sociedade ou denunciando desigualdades. Notícias que mostram exemplos positivos, histórias de superação, histórias de pessoas que praticam caridade, histórias de heróis do dia-a-dia.
O problema é que tenho o pressentimento de que esse gênero de publicações está sempre esperando algo de mim. A adesão a causa? A colaboração para a campanha? Ou talvez apenas a minha elevação moral?
Tento me manter à distância desse tipo de notícias. Não por ser contra as pessoas que querem fazer um mundo melhor. Ao contrário: torço para que elas façam esse novo mundo o quanto antes. O caso é que segundas intenções, mesmo que sejam altruístas, me deixam um pouco mareado.
Então, prefiro saber do mundo como ele é. Prefiro a descrição da realidade. Sem ponderações. Sem elucubração. Existe uma porta aberta para outra dimensão acima do mar do Litoral Norte? Conte-me sobre isso, garota. E eu tiro minhas conclusões. E tomo minhas decisões. No caso, aguardem-me, cidreirenses. Estou indo agora mesmo.