Tudo o que as pessoas querem é que alguém lhes diga o que fazer. Que alguém, sábio e superior, lhes aponte o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim. Esse é o papel dos pais, da filosofia, das psicoterapias, dos livros de autoajuda e, sobretudo, da religião.
A religião é perfeita para cumprir essa tarefa, pois quem está indicando o caminho a seguir não é um filósofo, um psicanalista ou um escritor. Não é nem um pai ou uma mãe. É Deus.
Se a pessoa acredita em Deus e acredita que uma religião O representa, ela seguirá o que essa religião determinar. Afinal, ela tem certeza de que aquilo é o correto a fazer (é Deus quem garante). Tal certeza é um grande trunfo, porque remove as dúvidas e os questionamentos da frente do indivíduo. Perguntas, dúvidas e questionamentos são ótimos para quem busca a sabedoria, mas são péssimos para quem busca a felicidade. Todos esses pontos de interrogação produzem insegurança, e ninguém é feliz se se sente inseguro.
Assim, quanto mais afirmativa for uma religião, mais segurança dará ao crente. E, quanto mais segurança o crente tiver, mais feliz ele será. A religião que mais cresce no Brasil é a evangélica exatamente por ser a mais afirmativa. Ao evangélico é dito com precisão o que ele deve e não deve fazer e que tipo de recompensa receberá, se fizer o certo. E o melhor: não se trata de uma recompensa etérea, como ouvir o som das cítaras no Paraíso católico ou desfrutar das 72 huris no Sétimo Céu muçulmano. Não. Ao evangélico promete-se emprego, casamento e comida na mesa. Promessas que, aliás, se cumprem.
Você, que é incréu, haverá de debochar: “Então, Deus produz milagres para os evangélicos?” Nada disso. Os milagres são produzidos pelos próprios evangélicos. De uma forma simples: o homem que se torna evangélico deixa de beber, de usar drogas, de roubar ou de matar, deixa de ter uma vida desregrada e baldia porque a igreja diz que tudo isso é errado. Por consequência, a vida dele melhora: ele fica mais saudável, ele conhece uma moça na igreja e se casa, algum colega de culto arranja-lhe emprego, o dia dele se torna mais previsível, mais seguro e, portanto, mais feliz.
As igrejas evangélicas salvam vidas, no Brasil. Mas são tratadas com escárnio pelos intelectuais, que acreditam que todos os evangélicos são iguais a certos pastores folclóricos, como Silas Malafaia.
A eleição de Bolsonaro, sabemos todos, deve-se também ao maciço apoio dos evangélicos. As esquerdas justificaram esse apoio pelos defeitos de Bolsonaro – sendo ele homofóbico, machista e preconceituoso, ganhou os votos dos homofóbicos, machistas e preconceituosos evangélicos. Talvez não tenha sido por isso. Talvez tenha sido porque Bolsonaro não julgou os evangélicos, não os considerou ridículos, nem os menoscabou.
O Brasil é um país com uma população cheia de carências e de dores. Quem as suaviza, quem ajuda, acarinha e consola nunca deveria ser desprezado.