O impeachment deveria ser uma ferramenta da democracia, mas, entre nós, brasileiros, virou instrumento da política. Como em muitas outras áreas da vida, somos levianos ao tratar do afastamento de governantes. Hoje, é quase impossível que alguém, depois de eleito, atravesse o mandato sem um pedido de impeachment.
Isso começou com a destituição de Collor. Deu certo daquela vez, por que não tentar de novo? Assim, os pedidos de impeachment se acumulam às dezenas contra cada presidente, cada governador, cada prefeito. A oposição está sempre atenta, porque um pedido de impeachment rende notícia, incomoda o executivo e, puxa, vai que dá certo?
Essa é a natureza do processo de impeachment instalado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre contra Marchezan. Faltando cinco meses para o fim do mandato do prefeito, fica claro que este é um processo com intenções eleitorais. Seria ruim, se estivéssemos vivendo um ano normal, mas, nas atuais circunstâncias, é muito pior: é vergonhoso.
Marchezan, bem ou mal, está gerindo a crise do coronavírus na cidade. Se comete erros, deve ser criticado. A crítica serve, inclusive, para que sejam feitas correções. Mas o importante é que, depois que a decisão é tomada, deve ser acatada. Porque agora precisamos de união, precisamos andar na mesma direção. É como se estivéssemos numa guerra. Nenhum grupo vence uma guerra, se houver dissensões. Um pedido de impeachment, neste momento, desvia o foco da luta contra o vírus, desvia energias que deviam estar concentradas num único ponto e não traz nenhum ganho para a cidade. Nenhum.
O objetivo deste processo de impeachment não é trazer benefícios para Porto Alegre. O objetivo deste processo de impeachment é a eleição que ocorrerá dentro de três meses. Não é por acaso que a classe política está tão desacreditada no Brasil. É porque a classe política não pensa no Brasil: pensa na política.