Bolsonaro acabou. Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, sendo ele quem é. O que surpreendeu foi a brevidade da sua relevância.
Sei que, neste momento, bolsonaristas começarão a escrever mensagens me ameaçando, me chamando de comunista, de petista, perguntando: preferia o Lula?
Em minha defesa, lembro que, em fevereiro de 2015, escrevi uma coluna exatamente sob o título "O PT acabou", causando fúria entre os petistas. Amigos que não eram amigos brigaram comigo, líderes petistas escreveram artigos em contraponto, mas, como se viu, eu estava certo. O PT, que foi o partido mais importante da história do Brasil, tornou-se um PDT. Tem até um Brizola como dono.
Os petistas continuarão existindo, como os bolsonaristas, mas PT e Bolsonaro foram enviados para o passado e de lá não sairão.
O livro bíblico dos provérbios diz que a arrogância precede a queda. No caso do PT, a arrogância foi a causa da queda. Quanto a Bolsonaro, não houve mudança de comportamento na raiz do seu fracasso. Ele fracassou por ser ele mesmo. Fracassou por não mudar.
Bolsonaro viu-se diante do pior tipo de crise que um líder pode enfrentar: uma crise de saúde. Todo o resto pode ser contornado, a saúde não.
Num momento como este, trágico, em que pessoas estão morrendo, o que se espera da liderança é a coordenação de esforços. O líder precisa fazer com que todos se movam numa única direção. Ele não tem de apresentar soluções mágicas, até porque em geral elas não existem. Ele só tem de mostrar qual é o caminho.
Bolsonaro fez exatamente o contrário: ele dividiu, quando tinha de unir. Bolsonaro brigou com prefeitos e governadores, brigou com autoridades mundiais da saúde, brigou com a imprensa, brigou até com os próprios ministros.
Bolsonaro é contra o isolamento social, mas não apresenta uma alternativa sólida e confiável. Ele não tenta convencer ninguém de que seu plano é melhor, simplesmente porque não tem um plano, a não ser a insistência em recomendar um remédio que ninguém sabe se funciona ou não. Bolsonaro é um líder sem plano de ação e um líder sem plano de ação não é líder.
Bolsonaro se comporta de uma forma infantil que escandaliza o mundo, saindo às ruas, limpando o muco do nariz no braço e em seguida cumprimentando um cidadão, formando aglomerações, beijando as pessoas, contestando de maneira birrenta a orientação sanitária que é seguida por todo o planeta, inclusive por seu ídolo Donald Trump.
O mundo hoje enxerga Bolsonaro como uma espécie de bufão malvado, um tipo exótico, uma piada triste.
Nos últimos dias, as embaixadas da Itália, da Alemanha, da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos pediram que seus cidadãos saiam com urgência do Brasil. As atitudes de Bolsonaro certamente pesaram nessa convocação. Falando com meu amigo Zé Pedro Goulart a respeito disso, ouvi dele uma avaliação da qual gostei.
— Quando se tem uma pandemia — disse o Zé Pedro —, a ação precisa ser de todos. A Organização de Saúde é mundial, é como se estivéssemos em tempos de guerra. Quem não está alinhado está fora, não terá benefícios e logo será declarado inimigo.
É isso. Bolsonaro está se transformando em um inimigo da coletividade. Não digo inimigo da humanidade porque seria demais para ele. Ele não tem grandeza suficiente para ser odiado; ele será apenas desprezado e, por fim, ignorado. Ele acabou. Bolsonaro acabou.