Tenho tentado lavar as mãos de acordo com as orientações dos especialistas em lavação de mãos. Não é tão fácil. Às vezes me perco em meio ao processo e fico em dúvida se minhas mãos estão realmente limpas. Então, procurei um tutorial no YouTube, acoplei o celular à pia do banheiro e comecei a fazer o que a técnica do vídeo mandava.
No tutorial, não aparecia o rosto da profissional de lavação. Apenas suas mãos. Ela calçou luvas de borracha e colocou tinta vermelha na palma a fim de simular o sabão. Fiz a mesma coisa, só que com sabão de verdade e sem luvas. Fiquei acompanhando o vídeo. Ao espalhar a tinta, ela provou que, ainda que a gente esfregue uma mão contra a outra, várias partes continuam sujas, intocadas pelo sabão purificador. Mãos imundas, na verdade. Oh, Deus, isso significa que passei a vida lavando as mãos do jeito errado. Quantos micróbios não ingeri por causa disso? De quantas gripes e dores de barriga e tudo mais padeci só porque não sabia lavar as mãos?
Há uma etapa do vídeo em que ela reserva atenção especial às unhas e às pontas dos dedos. É preciso remover absolutamente toda a sujeira que se acumula nesta região, que, segundo a perita, é a que mais tem contato com as superfícies contaminadas no nosso entorno. Foi uma agonia pensar nisso, tenho certeza de que debaixo de minhas unhas há um monte de coronas se revolvendo feito vermes.
E as laterais! Também temos de cuidar com muito critério das laterais, porque, de acordo com os ensinamentos da expert, passamos as laterais pelos cabelos, o que os deixa desgraçadamente infectados, como se fôssemos medusas saindo por aí com serpentes na cabeça. E ainda há o dorso das mãos. E os polegares. E também os punhos, é indispensável assear até os cotovelos. Jesus!
Decidi que seria mais simples tomar um banho de uma vez.
Foi o que fiz. Meti-me debaixo da água quente e quase que consegui ver chumaços de coronas descendo pelo ralo enquanto me esfregava com fúria, gritando:
- Vade retro! Vade retro!
Saí do banheiro, vesti roupas imaculadas, suspirei de alívio e peguei o celular da pia. Então, dei um tapa na testa: o celular! Se minhas mãos estavam coronadas antes, é certo que este celular continua com coronas saindo pelos gorgomilos, pois o manipulei! E agora? O que fazer? O YouTube! O YouTube tem a resposta para todas as nossas angústias. Mas não podia usar o celular, ele estava interditado. Corri para o laptop e, antes que pudesse dizer Cucamonga, estava diante de um instrutivo tutorial sobre como limpar o celular.
"Desligue o aparelho!", ordenou o especialista em lavação de celulares. Desliguei.
"Tire a capinha!" Tirei.
"Arranje um pano macio, que não solte fiapos!" Isso foi mais difícil. Vasculhei a casa por alguns minutos e encontrei um.
"Use álcool isopropílico com concentração de 70%!" Ah, não. Onde é que iria arrumar álcool isopropílico com concentração de 70% numa hora dessas? Aliás, o que, afinal, é um álcool isopropílico? Sentei-me no fundo do sofá da sala, olhando com desânimo para meu celular infectado. É dura a tarefa de higienização do homem confinado.