Não tenho carro. Nunca tive aqui em Boston. Não precisa, ando de metrô, o mais antigo das Américas, com 120 anos de eficiência, ou chamo um carro de aplicativo. Quando quero viajar, uso o sistema Zipcar: são automóveis que ficam estacionados nas ruas, há mais de mil pela cidade. Você escolhe um pelo celular e marca o tempo que quiser ficar com ele, pagando o correspondente. Na hora aprazada, abre o carro com um cartão magnético e sai rodando – a chave está pendurada na ignição.
No fim de semana passado, peguei um carro para ir a New Hampshire. Por esse método, saiu um terço mais barato do que se tivesse empregado o serviço de uma locadora comum.
Em Porto Alegre, você até pode andar na rua, mas não em determinados bairros, nem em determinados horários.
Finalmente, há outra opção de locomoção que utilizo bastante e é a de que mais gosto: caminhar. Sinto prazer em andar pela cidade, ver as pessoas, às vezes parar para tomar um café ou entrar na livraria.
Só posso fazer tudo isso que contei acima porque conto com uma prerrogativa: tenho segurança. A chave do Zipcar pode esperar por mim na ignição, que o carro não será roubado; posso andar pela cidade, que não serei assaltado. E, no trem, viajo com conforto, com ar condicionado e wi-fi, sabendo que ninguém me baterá a carteira.
Em Porto Alegre, eu não faria o mesmo, porque os níveis de segurança são baixos. Você até pode andar na rua, mas não em determinados bairros, nem em determinados horários. Dona Diva, a minha mãe, quando sai para ir ao supermercado, por exemplo, veste uma roupa surrada, que não chame a atenção, tira o relógio e os brincos, e deixa o celular em casa. Ela sabe que senhoras sozinhas são alvos preferenciais dos bandidos.
O melhor, na verdade, é caminhar o mínimo possível pelas ruas. O ruim é que as lotações e os ônibus também estão infestados de assaltantes. Não faz muito, minha madrinha, a Sônia, estava em um lotação quando um homem anunciou o assalto e foi de passageiro em passageiro recolhendo carteiras e celulares. Levaram tudo que ela tinha de valor, inclusive a bolsa nova que havia ganho do meu irmão Régis. É a terceira vez que isso acontece com ela. Ela não anda mais de lotação.
A saída é chamar um carro de aplicativo. Ou dirigir seu próprio carro. E era aí que queria chegar. Porque a prefeitura de Porto Alegre está tomando medidas para valorizar o transporte coletivo em detrimento do individual. Foram criadas novas faixas exclusivas para ônibus, apertando ainda mais o espaço destinado aos carros particulares. É uma medida inteligente, saudável e lógica em todas as cidades do mundo… Que ofereçam boas alternativas de transporte coletivo. Vou repetir: que ofereçam boas alternativas de transporte coletivo!
Em Porto Alegre, as pessoas não andam de carro por egoísmo, por comodidade, nem por serem elitistas. Elas andam de carro PORQUE PRECISAM. Porto Alegre não tem metrô. Em Porto Alegre, as pessoas são assaltadas na rua, em ônibus ou em lotações. Por isso, as pessoas se submetem a pagar caro por estacionamentos ou a chamar carros de aplicativos. As pessoas não vão trocar seus carros por ônibus ou lotação, mesmo que os engarrafamentos aumentem. Porque as pessoas TÊM MEDO de andar de ônibus ou de lotação. O aumento dos engarrafamentos só vai aumentar o sofrimento do porto-alegrense. Primeiro resolvam o problema dos ônibus e dos lotações; depois mandem as pessoas andar neles.