O PG está contra mim. Tudo bem, já esperava por essa facada nas costas. Porque PG, o Paulo Germano, você sabe como ele começou? Ele era o cara que me auxiliava em meu extinto e saudoso blog, em zerohora.com. Foi lá que ele se consagrou.
Foi a partir daquele trabalho, que exercemos juntos, ombro a ombro, como soldados na trincheira, que ele se viu lançado para os píncaros dourados do sucesso. E, agora, submerso no bálsamo da glória, cercado de belas mulheres, com maços de notas de cem nos bolsos, agora, o que ele faz? Vai contra mim.
É assim mesmo.
Estou acostumado.
O PG, com o que ele não concorda é com minha tese acerca das mudanças no trânsito de Porto Alegre. Para aquele trânsfuga, a prefeitura está correta em aumentar o espaço para o transporte coletivo em detrimento do transporte individual. Ou seja: faixas exclusivas para os ônibus e diminuição da pista dos carros particulares.
Preciso aqui reconhecer que, filosoficamente, o PG tem alguma razão: em qualquer cidade do planeta, as mazelas do trânsito só são resolvidas pelo transporte público. O metrô, óbvio, é o principal meio de desafogo do tráfego em cidades médias e grandes, e Porto Alegre chegou a ter dinheiro destinado à abertura de linhas de trem, mas, por algum motivo, o projeto não foi adiante.
Sem metrô, nem aeromóvel, nem bondes, o que sobra são ônibus e lotações. Assim, as vias exclusivas tornam-se quase obrigatórias, em certas ruas. O ideal seria que o porto-alegrense se deslocasse em ônibus e deixasse o carro em casa, usando-o só em emergências ou para viagens. Como acontece, por exemplo, em Nova York.
O PG estaria certo, se vivêssemos em um mundo ideal. Mas não vivemos.
Esse é o mundo ideal. O PG estaria certo, se vivêssemos em um mundo ideal. Mas não vivemos.
Porto Alegre é uma cidade aterrorizada pela violência urbana, isso escrevi ontem e também ontem o PG me passou números que mostram que a segurança aumentou, dentro dos ônibus. O que é ótimo. Só que o problema não está apenas dentro dos ônibus. O problema está fora deles, e esse é um dos argumentos que quero acrescentar ao debate. Quem se desloca de ônibus, em geral, precisa caminhar até a parada para tomá-lo. Depois, ao descer do ônibus, o passageiro precisa caminhar da parada até a sua casa. São esses trajetos que atemorizam o cidadão.
Agora, vamos ao segundo argumento. É que, olhando da calçada, o PG vê o sujeito sozinho dentro do seu carro e pensa: “É um burguês egoísta, é ele o culpado pelo trânsito caótico”. Nada mais errado, caro PG. Carros e celulares há muito tempo não são mais prerrogativas dos ricos. Aquele motorista, se for burguês, é pequeno-burguês. É o sofrido integrante da classe média, trabalhador, assalariado, pagador de impostos, tão odiado pelos governantes do Brasil. É ele quem ficará preso nos engarrafamentos, que se irritará todos os dias, que chegará atrasado ao serviço, que será repreendido pelo chefe.
Para encerrar, o terceiro argumento: o tempo economizado com a mudança. O passageiro do ônibus ganhará cinco minutos; o do carro perderá 15. E, ainda assim, ele não trocará o carro pelo ônibus, porque tem medo da violência. Vale a pena torturar o motorista de classe média por causa desses cinco minutos? Creio que não.
O PG, depois de sair do meu blog, tornou-se meu amigo para sempre, mas também untou-se de fama. Famosos pouco ligam para os dramas da classe média. Pobre classe média, só tem a mim para defendê-la.