Deparei, ontem, com o seguinte título no site do jornal El País:
“Como o futebol alimenta a cultura do estupro e menospreza a violência contra mulheres”.
Era uma matéria sobre Robinho, reaproveitada agora para o caso Neymar.
Nem precisaria ir texto abaixo, mas fui.
Li.
Se você tiver paciência, leia também. Verá como o texto é superficial, preconceituoso e mal-escrito. Mas não foi isso que me incomodou, e sim a desonestidade da matéria, a mesma desonestidade que se esconde no núcleo de muito do que tem sido escrito e falado acerca desse tema e de outros que tais, no Brasil.
Parece que estamos em uma guerra: mulheres versus homens. As mulheres são o Bem, os homens são o Mal. Neymar é estuprador não porque haja indícios fortes de que ele cometeu o crime, mas porque ele é homem. Os indícios, na verdade, apontam para o lado oposto: as evidências mostram que Neymar está sendo vítima de extorsão. Só que é politicamente correto apontá-lo como estuprador, até porque, além de homem, Neymar é rico, famoso, poderoso e, o que configura prova definitiva para El País, jogador de futebol. Como não odiar alguém que é homem, rico, famoso e jogador de futebol?
Tenho cá minha opinião a respeito do assunto e já a publiquei: Neymar é inocente. Mas não é isso que importa, até porque posso estar errado. O que importa foi o termo que escrevi no parágrafo acima: “politicamente correto”. É o politicamente correto que, muitas vezes, está no centro das análises acerca do que acontece no país.
Não por acaso, em seu discurso de posse como presidente da República, Bolsonaro disse que foi eleito para governar contra o politicamente correto. Aquela declaração me chocou. Porque o politicamente correto, na essência, é positivo. Querer uma sociedade menos preconceituosa, que trate homens e mulheres com igualdade, que aceite qualquer orientação sexual com naturalidade, que repudie o racismo, que proteja os mais fracos e que abomine a discriminação, querer uma sociedade assim é bom. É ótimo! E isso é o politicamente correto. Logo, o politicamente correto é ótimo.
Como, então, um presidente da República pode deblaterar contra esse sentimento? E mais: como pode ele ter sido eleito exatamente porque deblatera contra esse sentimento? Por que isso aconteceu no Brasil?
Por causa de manifestações como a do El País.
Como dizia o meu sábio avô, o sapateiro Walter, “tudo que é demais derrama”. O exagero torna torto o que é direito, torna incorreto o que é correto.
Porque NÃO, nós não estamos em guerra. A maioria das mulheres não é contra os homens e a maioria dos homens não desrespeita as mulheres. Há mulheres boas e mulheres más, assim como há homens bons e homens maus. Você pode dizer que uma mulher é mal-intencionada e isso não significa que você seja contra as mulheres. Você pode não gostar de coisas típicas das mulheres, como futebol feminino, por exemplo, e isso não significa que você seja machista.
A sociedade se movimenta segundo Newton e Hegel compreenderam: a toda ação sempre há uma reação de mesma intensidade; diante de toda tese sempre surge uma antítese que se lhe opõe com a mesma potência. A agressividade do politicamente correto e das esquerdas empurrou a sociedade para o politicamente incorreto e para a direita. São as esquerdas e o politicamente correto os pais de Bolsonaro e Trump.
Mas o bom senso não está nos extremos. Está, como ensinou Sidarta, no caminho do meio. Temos, todos, de viver juntos. Sem ódio, essa tarefa ficará bem mais fácil de ser cumprida.