Marina Ruy Barbosa. A única ruiva do Brasil. Um país habitado por 210 milhões de seres humanos e uma só ruiva. Há outras brasileiras de cabelo vermelho? Nós sabemos que há. Mas ruiva legítima e, mais, de uma legitimidade suave, sem ser fosforescente, apenas e tão somente Marina Ruy Barbosa.
Marina Ruy Barbosa. Olhe bem para ela. Em tudo é fresca e matinal, suas faces são rosadas e em seus olhos redondos às vezes parece faiscar uma luz de infância, de criança perplexa. Por que isso, se Marina já é mulher feita? É que, não, ela não é mulher feita. Marina está distante do outono da maturidade e ainda mais distante do inverno da velhice. Marina se encontra na meia-estação tépida e colorida que separa o verão da primavera.
A primavera. Pense na primavera. Aqui, no norte da América, as estações são bem características, estações de manual, de livro de colégio. Assim, quando chega a primavera, o povo suspira de alívio e sai às ruas e as ruas estão belíssimas, com flores por todo lado e insetos avoejando ao redor.
O que está acontecendo ali, naquele momento?
Sexo.
As plantas estão fazendo sexo enlouquecidamente.
Atraídos pelas cores e pelo perfume das flores, os insetos deitam-se nelas para colher o néctar, repoltreiam-se no pólen, que se gruda a eles, e, quando vão visitar outra flor, que aos insetos não é exigida exclusividade, levam também esse pólen, fecundando a segunda parceira de farras.
Cada flor adota uma estratégia para seduzir o parceiro que lhe interessa. Flores que querem besouros são menos vistosas, mas seu perfume é bem forte, que é disso que o besouro gosta. Já as flores que preferem as aves vestem-se com pétalas de cores berrantes, mas não têm perfume algum, que não é o cheiro que comove uma ave. E as flores que se encantam por abelhas abusam do amarelo e do azul, mas jamais do vermelho, porque as abelhas nem sequer enxergam essa cor, essas gremistas.
O fato é que as flores são tão lindas porque precisam atrair os, digamos, parceiros, a fim de propiciar a deliciosa polinização. Como Marina Ruy Barbosa! Ou qualquer mulher jovem. A beleza da mulher tem uma finalidade na natureza: a reprodução da espécie.
Bem sei que, neste ponto do texto, haverá mulheres enfurecidas, alegando: não é só para isso que as mulheres se embelezam, nem todas as mulheres querem ter filhos etc.
Tudo o que elas alegarão é verdade. Não é só para atrair homens que as mulheres se embelezam e muitas delas não desejam a maternidade. É que nós, seres humanos, conseguimos, graças sobretudo à razão pura criticada por Kant, submeter a natureza. É uma façanha, embora isso muitas vezes não seja o melhor para nós, como no caso, que citei na terça-feira (14), de nossos instintos anestesiados.
No entanto, em geral, as nossas reações continuam sendo bastante influenciadas pela nossa natureza animal. Ou seja: fazemos coisas de acordo com regras que estão dentro e acima de nós ao mesmo tempo.
O mundo dos seres vivos funciona conforme essas regras, mas não só o mundo dos seres vivos: o universo inteiro tem uma lógica. Os satélites giram em torno dos planetas, que giram em torno das estrelas, que fazem parte de imensas galáxias, que são discos luminosos no espaço. Essas galáxias, como tudo o mais, estão em movimento. A nossa querida Via Láctea, inclusive, um dia irá colidir com Andrômeda, o que acabará com as ligações de telemarketing e as discussões no WhatsApp, além do resto do planeta. Mas, não se preocupe, isso só deverá ocorrer daqui a 2 bilhões de anos, quando estaremos bem velhinhos.
Em resumo, é certo que há, dentro de nós, em volta de nós, acima de nós, em toda parte, em todos os seres, em toda matéria, uma coerência. Uma lei. E aí está ele. Ou: Ele. Deus.
O homem que foi dono de um dos cérebros mais poderosos da história, Shakespeare, dizia: há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia. É uma frase batida. Todos já ouviram ou leram essa sentença. Mas, talvez, nem todos a tenham compreendido.