Leonardo da Vinci, gênio florentino que encarnou o Renascimento europeu, morreu há 500 anos, em 2 de maio de 1519.
Confira o comentário de David Coimbra sobre o tema:
Na quinta-feira, 2 de maio, completaram-se 500 anos da morte do Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios da história da humanidade. Há exposições por várias partes do mundo sobre ele – uma vez, aqui em Boston, fui em uma exposição no Museum of Fine Arts com as gravuras de Leonardo da Vinci, os desenhos que ele fazia. Ele escrevia muito, então há muitas anotações, gravuras, desenhos, estudos muito interessantes espalhados pelo mundo todo.
E eu estava na cidade de Vinci, que era perto de Florença. E na mesma época do Leonardo da Vinci, um pouco mais jovem do que ele, viveu Michelangelo, também em Florença. Os dois estavam lá: os dois maiores gênios da humanidade, Michelangelo e Da Vinci, na mesma cidade e na mesma época. E na mesma cidade e na mesma época viveu outro grande gênio da história da humanidade, que foi o Machiavelli, o Maquiavel. E o Maquiavel sabia o seguinte: que Michelangelo e Leonardo da Vinci tinham uma disputa. Apesar de o Michelangelo ser um pouco mais jovem, ele tinha ciúme do Leonardo da Vinci.
Os dois eram homossexuais, mas o Leonardo da Vinci era um cara bonitão, todo mundo elogiava a beleza dele, era sociável, era alegre, ele fazia festas, era um grande festeiro e organizava espetáculos com máquinas, com efeitos especiais. Imagina tu ir em uma festa organizada pelo Leonardo da Vinci! Aliás, ele ganhavam mais dinheiro fazendo festas do que com suas obras de arte. Ele era famoso! Naquela época ele criava efeitos especiais para as festas que as pessoas adoravam e contratavam ele para fazer festas, ele era famosíssimo por isso. Não era só pintor, era escritor, era escultor.
Enquanto isso, o Michelangelo era um sujeito para dentro, mal-humorado, uma pessoa que não se relacionava bem com os outros, estava sempre meio depressivo, mas era um gênio igual ao Leonardo da Vinci. E eles tinham essa rivalidade. E o Maquiavel, que, como eu disse, era maquiavélico, uma vez, sabedor dessa genialidade de ambos e da rivalidade que eles alimentavam, fez o seguinte: contratou os dois para que cada um fizesse uma parede de uma mesma igreja, em Florença, ao mesmo tempo. Aí a cidade inteira de Florença se mobilizou por causa daquilo, imagina só, eram os dois, um contra o outro, era mais do que Seleção Brasileira de 1970 contra o Barcelona do Messi. Pior, mais do que isso! Eram os dois, a grande rivalidade de Florença, onde o Maquiavel acabou fazendo com que houvesse essa grande disputa, essa grande final. Mas os dois tinham tanta rivalidade um com o outro, tinham tantos problemas um com o outro, que acabaram não concluindo as obras. O Leonardo Da Vinci tinha uma mania de não concluir suas obras, essa ele não concluiu e a do Michelangelo também não se concluiu.
O Michelangelo tinha grande problema com o Leonardo da Vinci, porque quando ele terminou o David, aliás, uma estátua com nome bonito, que está lá hoje em Florença, o Leonardo Da Vinci fazia parte da comissão que decidia onde ia ser colocada a obra. E ele insistiu para que fosse dentro de um museu e não ficasse exposta na praça, como Michelangelo queria. Então o Michelangelo achava que ele tinha ciúme dele.
Certa vez, o Da Vinci, um gênio desses, foi para Milão, porque naquele tempo a Itália não era um país unificado, cada cidade era um Estado, às vezes entravam em guerra. E ele vai para Milão e lá quem mandava eram os Sforza, era o Ludovico Sforza e os duques de Milão. Era chamado "o Mouro", o duque de Milão, e Da Vinci resolveu fazer, em homenagem a esse Mouro, uma grande estátua equestre, com o cara montado em um cavalo, que seria o maior monumento do mundo de todos os tempos. Uma estátua equestre com o cavalo empinado, quer dizer, algo muito difícil de se fazer, toda de bronze e com sete metros de altura, fora o pedestal.
Ele faz o molde dessa estátua, todo mundo vai lá ver e ele fica famoso na Itália inteira – ou no mundo inteiro, naquela época. As pessoas então vão ver o molde em gesso e se perguntavam "como é que ele vai conseguir fazer isso?". Ele começa a arrecadar o material, o bronze para fazer a estátua, e Milão entra em guerra. O duque pega o bronze todo da estátua e transforma em canhões. Então hoje poderia ter uma das maiores obras de todos os tempos, feita por Leonardo da Vinci e por causa da estupidez de um governante acabou se transformando em canhões.