Não conheço o governador Eduardo Leite. Nós o entrevistamos uma vez no Timeline, da Gaúcha, mas nunca falei com ele em pessoa. Também não posso dizer que saiba muito acerca de suas ideias, do seu currículo ou de seus planos. Mas sei que, antes de completar um mês de mandato, Eduardo Leite está conseguindo o que nenhum outro governador conseguiu, desde que os gaúchos passaram a votar diretamente para o cargo, em 1982.
Eduardo Leite conseguiu a paz.
Ou, pelo menos, uma trégua.
O Brasil está precisando de políticos menos belicosos e mais propositivos.
A oposição que vem sendo feita a Eduardo Leite não é feroz nem sistemática. É uma oposição razoável, e, quando escrevo “razoável”, refiro-me à raiz da palavra: é uma oposição feita com a razão.
A concórdia inédita acontece por vários fatores. Em primeiro lugar, por méritos de ambos os lados, oposição e situação. Eduardo Leite fez questão de procurar políticos de todos os partidos para conversar e eles fizeram questão de ouvi-lo. Mas a conversa só foi possível porque, antes dela, Eduardo Leite avisou que não é candidato à reeleição – ninguém tinha de sentir medo de estar fortalecendo um futuro adversário.
Além disso, parece que o gaúcho está cansado da peleia. Muitas pessoas já concluíram que, se não caminharmos todos para o mesmo lado, não iremos a lugar algum.
“Muitas pessoas”, porém, não são “todas as pessoas”. Não sei nem se são a maioria das pessoas. Porque há pedaços da sociedade que continuam ouriçados e ávidos de combate.
A disputa política tornou brasileiros inimigos de brasileiros. O PT tem muita responsabilidade por isso, sim, por seu comportamento excludente, o tal de nós contra eles, o povo contra a elite. Esse ambiente foi acirrando uma parcela da sociedade, a ponto de fomentar algo que parecia impossível no Brasil: uma direita orgânica e orgulhosa de ser direita.
Cevada pelo caráter excludente do PT, essa direita tornou-se mais excludente do que o PT. Tudo o que não incensa o governo é esquerdalha, é comunista, tem que se mudar para Cuba ou comprar nos supermercados da Venezuela. E a imprensa, que já era a bête noire do PT, tornou-se a bête noire da direita empossada.
As pessoas tornaram-se, à esquerda e à direita, odientas e cruéis. A diversão é humilhar o próximo, difamá-lo, e o máximo do gozo é participar de campanhas contra ele.
Essa guerra começou com a política. Pela política pode haver pacificação. O Brasil está precisando de políticos menos belicosos e mais propositivos, que entendam que a razão não está de um lado só e que todos (todos!) queremos atingir o mesmo objetivo: o bem do Brasil. O Brasil está precisando de tolerância. De paz. O Brasil está precisando de políticos que façam como está fazendo Eduardo Leite.