O filósofo de melhor texto é Schopenhauer. O mais fácil de ser lido. Freud também, se você considerá-lo filósofo. Eu considero, embora ele preferisse ser visto como cientista puro.
Se você tomar, por exemplo, o livro mais bem escrito de Freud, O Mal-Estar na Civilização, irá regalar-se com um texto de alta qualidade literária, com ideias originais e bem concatenadas, com uma tese quase irretorquível, mas que, ainda assim, continua tese – não está comprovada cientificamente. Talvez possa ser, um dia, se alguém se dedicar profunda e seriamente a isso, mas ainda não está, e a comprovação é imprescindível para a ciência.
Schopenhauer dizia que o amor só existe como ferramenta para a reprodução da espécie.
Então, Freud e Schopenhauer são os filósofos que melhor escreveram. Ambos são surpreendentes e têm senso de humor, mas a Schopenhauer agrega-se o predicado de ser engraçado. Ele é de um pessimismo tão grandiloquente quanto divertido. Se fosse um personagem, seria Hardy, a hiena triste, amiga do Leão Lippy, que vivia se lamentando:
– Oh, vida… Oh, dor… Oh, dia…
Quando você lê Schopenhauer à luz (ou sob as sombras) do século 21, aí ele fica ainda melhor, sobretudo em suas considerações sobre a vida mundana, especialmente a respeito da mulher e do amor. Schopenhauer dizia que o amor só existe como ferramenta para a reprodução da espécie e que, quando escolhemos nosso par, o fazemos por instinto – nossa intenção subjacente é gerar um filho com boa carga genética.
Há um texto em que ele interpreta as razões pelas quais sentimos atração por um determinado tipo físico de mulher. Tudo está a serviço da genética. Segundo ele, uma das características que buscamos nas fêmeas da espécie é:
"…uma certa abundância de carnes. Isto é: a predominância da faculdade vegetativa, da plasticidade, porque promete ao feto um alimento rico. É por isso que uma mulher alta e magra desagrada ao homem de um modo surpreendente. Os seios bem redondos e bem conformados exercem uma fascinação notável sobre os homens, pois, encontrando-se em relação direta com as funções da geração da mulher, prometem ao recém-nascido uma boa alimentação. As mulheres nutridas em excesso provocam a nossa repugnância, porque esse estado mórbido é sinal de atrofia do útero, e portanto uma marca de esterilidade. Não é a inteligência que o sabe, é o instinto".
Para o velho Schope, as modelos da atualidade, como a minha vizinha Gisele Bündchen, não atraem os homens…
Há muitos trechos saborosos nos livros de Schopenhauer, renderiam dezenas de colunas, mas o que importa, aqui, é precisamente o predicado que ele tem de escrever fácil. A maioria dos outros grandes filósofos não é dotada dessa qualidade. Aquele que pode ser classificado como antecessor de Schopenhauer, o também alemão Immanuel Kant, escrevia difícil. Quando tentei ler um livro de Kant pela primeira vez, não li. Não conseguia ir adiante. Sentia-me estúpido e, com medo de estar certo, não continuei a leitura. Já na segunda vez… não entendi nada, também. E na terceira, idem. E na quarta, igual. Foi lá pela quinta tentativa que comecei a compreender alguma coisa, o que me deixou muito orgulhoso de mim mesmo.
Gosto muito da filosofia moral de Kant, que, de alguma forma, aplica-se ao que está acontecendo hoje ao Brasil. Como? Direi no próximo texto. Não dá para falar de um homem complicado como Kant em uma única coluna.