É compreensível toda essa paixão que algumas pessoas sentem por Lula.
Mas não é saudável.
É compreensível por ser alentador acreditar que um pai ou um protetor qualquer vá resolver os problemas da sua vida para você. É mais cômodo. É mais simples. E é até heroico.
Só que não é saudável, porque a melhor política é aquela feita com a razão, não com a emoção. Admirar um político, sim; venerá-lo, nunca. Porque a política envolve, diretamente, o exercício do poder, e o poder muda os homens. "O poder corrompe", concluiu uma vez Emiliano Zapata.
Não existe um único caso, na história do mundo, de política feita com paixão que tenha dado bons resultados. O ideal é a sobriedade democrática de uma sociedade que não se abala com mudanças no Poder Executivo. Ora a sociedade vai mais para a esquerda, ora para a direita, dependendo das circunstâncias.
Você gosta daquele político, você concorda com as ideias dele, você até se filiou ao seu partido, mas observa criticamente tudo o que ele faz. Se ele errar, você cobrará. Se acertar, aplaudirá. Tem de ser assim.
Se parte da população manifesta paixão por um político ou um partido, outra parte será atirada no campo oposto. É uma reação natural do ser humano. E foi o que aconteceu no Brasil. A devoção quase que religiosa dos petistas foi, aos poucos, radicalizando seus opositores. Donde, o surgimento de um Bolsonaro.
Agora, faço uma pausa para refletir sobre esse personagem. Entrevistei ou cobri campanhas de praticamente todos os grandes líderes políticos do Brasil do final do século 20 para cá, de Prestes a Collor, passando por Covas e Temer. Conheci políticos carismáticos, como Brizola, Maluf e o próprio Lula. Outros muito bem preparados intelectualmente, como Fernando Henrique, Tarso Genro e Ulysses Guimarães. Há políticos que fascinam pelo seu bom humor, como Collares, outros pela sua autenticidade, como Olívio, e há até os folclóricos, como Jânio Quadros. Mas o que tem Bolsonaro? Por que ele mobiliza multidões?
Bolsonaro é um homem de poucas luzes, seu partido é irrelevante, ele nunca foi eleito para qualquer cargo executivo e não se pode dizer que seja simpático. Qual a razão de seu sucesso?
Direi: Bolsonaro conseguiu capturar o oposto da paixão. Ele é o anti-PT. É por isso que, quanto mais alvoroço o drama de Lula provoca, mais cresce Bolsonaro.
Arrisco um cálculo eleitoral para este ano: o PT e o PSDB, com quaisquer candidatos, têm, cada um, pelo menos 20% dos votos. Bolsonaro teria mais 20%. Sobram 40%, que seriam distribuídos entre os demais ou para algum dos três que crescesse na campanha. Ou seja: um candidato pode ir para o segundo turno com menos de 30% dos votos. O que significa que Bolsonaro, muito provavelmente, estará no segundo turno. E, se o seu adversário for do PT, não duvide: Bolsonaro se elegerá.
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Você assistiu à movimentação em torno da prisão de Lula, na sexta-feira (6). Houve lágrimas, houve gritos, houve desespero. Houve, tão somente, paixão. Bom para Lula, que quer se transformar em mártir. Bom para Bolsonaro, que quer ganhar votos. Ruim para o Brasil.