Alguns dias antes da finalíssima da Libertadores, contra o Lanús, o Duda Garbi disse ter se impressionado com o semblante dos jogadores do Grêmio, quando eles desembarcaram no aeroporto de Buenos Aires.
– Os torcedores iam falar com eles e eles nem riam – contou o Duda. – Cumprimentavam, mas sempre rapidamente. Seguiam caminho na maior seriedade, como se estivessem brabos.
É assim que tem de ser. Para vencer uma final, qualquer final, um time precisa de concentração absoluta. Os risos ficam para depois do jogo. Time que ri antes perde depois.
Nesta segunda-feira, no saguão do hotel do Grêmio, em Al Ain, notei que os jogadores parecem mais descontraídos. Não há clima de festa, mas também não se percebe aquela tensão dos dias que antecederam a decisão na Argentina.
Mas não se engane, não é mau sinal. Menos tensão pode significar mais naturalidade, não relaxamento. Mau sinal é quando há euforia.
O Brasil que se hospedou em Weggis, na véspera da Copa de 2006, era só euforia, só festa. Lembro daquela tarde em que uma torcedora invadiu o campo de treino para beijar o Ronaldinho. Todo mundo achou engraçado, tudo era muito engraçado, até a Copa começar.
No jogo decisivo contra a França, em Frankfurt, fiquei acompanhando o aquecimento dos franceses. Zidane reuniu os outros jogadores em uma rodinha, numa esquina do campo, e começou a falar com eles. Enquanto falava, uma veia azul saltou de sua garganta e, como um Rio Nilo, subiu-lhe queixo acima até a fronte. Ele gritava, gesticulava e os outros o observavam sem nem piscar. Pensei: nos ralamos.
E nos ralamos.
Em campo, Roberto Carlos ajeitava os meiões, enquanto Henry marcava o gol da vitória.
Concentração.
Decisão se ganha com concentração.
A CARA DA RIQUEZA
Os Emirados Árabes são o que a minha amiga Cris Camps chamaria de “a cara da riqueza”. Estradas lisas como as pernas da Megan Fox, tapetes tão espessos que fazem afundar até as vaidades das socialites brasileiras, prédios com pés-direitos altos como catedrais e luzes como se estivéssemos na Times Square.
Estava comentando sobre todo esse luxo, quando o Diogo acrescentou:
– E não existe imposto de renda!
Imagine: não existe imposto de renda! O paraíso do MBL.
A CARA DO GOVERNO
Um brasileiro que aqui vive definiu o governo dos Emirados Árabes como “uma ditadura do bem”. Argumentei que isso não existe. Ditaduras são, conceitualmente, do Mal, com eme maiúsculo. Ele pensou um pouco e reconheceu que as mulheres sofrem mais com a ditadura. E relatou um caso aterrador: tempos atrás, uma canadense que vivia no país foi estuprada. Prestou queixa à polícia. A providência da Justiça foi deportá-la, porque havia feito sexo com outros homens, mesmo sendo casada. Seu marido continua vivendo e trabalhando aqui, e ela não pode nem sequer visitá-lo.
Não insista. Não existem ditaduras do bem.