Marx tinha razão. Quem diria que se faria tal afirmação depois da derrota irrecorrível do urso soviético na Guerra Fria?
Amigos comunistas, Manuela D'Ávila, Luciana Genro, Maria do Rosário, vai aí um alento: Marx tinha razão.
Farei um arrazoado de sustentação. Começo pelo Globo Repórter de sexta passada, sobre a Dinamarca, que gerou um pequeno frisson nas redes. A Dinamarca é conhecida como o país mais feliz do mundo, a carga tributária é elevada e o Estado presta bons serviços à população. São as características de praticamente todas aquelas outras nações nórdicas, a Suécia, a Noruega, a Finlândia.
Seriam os vikings socialistas?
Por que não imitá-los e transformar o Brasil numa grande Dinamarca?
Isso é impossível. O Brasil não pode se transformar numa grande Dinamarca exatamente porque a Dinamarca não é grande. A Dinamarca, bem como a Finlândia e a Noruega, tem a metade da população do Rio Grande do Sul. Nem a Suécia tem mais habitantes do que o Rio Grande do Sul. São países de homogeneidade étnica, cultural e religiosa só comparáveis ao Japão e à Coreia.
Mas seria possível imitar o Estado de bem-estar social que a Dinamarca desfruta, desde que o Brasil tivesse um mercado tão ágil quanto o deles. Lembre-se que é o mercado que sustenta o Estado – os recursos do Estado vêm dos impostos e os impostos são pagos pelos contribuintes e os contribuintes tiram o que ganham do mercado.
Na Dinamarca, um empreendedor leva cerca de seis dias para abrir uma empresa. No Brasil, a média é de 130. Você argumentará que isso também acontece porque a Dinamarca é pequena. Talvez. Mas, num país mais parecido com o Brasil, até maior, como os Estados Unidos, a média é de quatro dias.
Marx pregava que o comunismo só seria implantado depois do esgotamento do capitalismo.
Dentro dos Estados Unidos, graças a um sistema federativo que realmente funciona, há algumas Dinamarcas. Aqui onde moro, Massachusetts, a forma de viver é quase escandinava, inclusive nas garantias dadas pelo Estado.
Agora mesmo, aconteceu algo dinamarquês nos Estados Unidos: 400 bilionários americanos se reuniram e escreveram uma carta aberta ao governo pedindo que NÃO lhe sejam reduzidos os impostos. É que o governo Trump apresentou um projeto de diminuição de taxas que deve ser votado pelo Congresso nesta semana. Por essa proposta, os impostos cairiam de 35% para 20%, um corte radical. Os mais beneficiados seriam, precisamente, os grandes empresários. Os ricos. A ideia de Trump é fazer com que lhes sobre dinheiro para que possam investir. Nessa manifestação pública, os empresários rebatem a lógica trumpiana. Eles dizem: "Já estamos ganhando dinheiro suficiente. Se nos sobrar mais, não vamos investir, vamos guardar. Queremos continuar pagando impostos para que o Estado possa garantir bons níveis de igualdade social".
Sério. Eles disseram isso.
Ou seja: Marx estava certo. Marx pregava que o comunismo só seria implantado depois do esgotamento do capitalismo. O capitalismo teria de cumprir todas as suas etapas para que se chegasse ao socialismo e, por fim, ao comunismo. Por isso, só países desenvolvidos industrialmente, como a Alemanha e a Inglaterra, poderiam alcançar o socialismo.
As tentativas comunistas, porém, ocorreram em lugares atrasados, de economia baseada na agricultura, como Rússia, Coreia do Norte, China e Cuba.
Hoje, o que se vê é a profecia de Marx se cumprindo: os países em que há maior nível de bem-estar social são as democracias capitalistas. No Brasil, aonde o capitalismo jamais chegou, onde o que comove é o populismo e o que faz lucrar é o patrimonialismo, seria preciso primeiro tirar a poeira ideológica e destravar as relações da comunidade para ver aonde se pode chegar. Porque, como estamos, com o país pesado, duro, atrasado, não iremos a lugar algum. O capitalismo, que no Primeiro Mundo se mostrou flexível, que se adaptou darwinianamente às necessidades de cada sociedade, haverá de alcançar o Brasil. E nos salvar. O capitalismo salva. Foi Marx quem disse.