Recebi mais de 200 mensagens dos admiradores de Bolsonaro insultando-me porque falei mal do ídolo deles.
Isso me deixa preocupado.
Não os insultos: a admiração por Bolsonaro.
Trump elegeu-se presidente dos Estados Unidos. Trump é um troglodita, mas, perto de Bolsonaro, transforma-se em sócio de clube de cavalheiros ingleses, com cachimbo e pince-nez. Trump tem o mérito de ser um vencedor. É um bilionário, sabe ganhar dinheiro, conhece os negócios e os homens de negócios.
Bolsonaro, não. Bolsonaro é apenas um homem grosseiro.
O medo do terror fez Trump crescer nos Estados Unidos. O medo da violência urbana faz Bolsonaro crescer no Brasil.
O medo arranca o pior dos seres humanos.
Tanto Bolsonaro quanto Trump se cevam na rejeição à vigilância moral dos politicamente corretos. É um erro terrível. Se você não gosta do politicamente correto, não significa que tenha de ser politicamente incorreto.
As pessoas estão fazendo confusão.
Você pode criticar as novas feministas, os movimentos negros e as entidades de defesa LGBTs, mas você não pode desrespeitar as mulheres, discriminar os negros e ter preconceito contra os homossexuais.
Você pode criticar o PT e a atuação dos sindicatos, mas não pode deixar de entender as necessidades dos trabalhadores.
Defender os direitos humanos não é defender bandidos – é, apenas, defender os direitos humanos, que são os SEUS direitos, leitor.
A violência não aumentou porque acabou a ditadura, até porque a atenção dos generais não estava voltada para a violência urbana e sim para a guerrilha urbana. Alguns dos países mais violentos do mundo são ditaduras, como o Congo e a Venezuela.
Houve e há militares inteligentíssimos. Golbery do Couto e Silva e Castelo Branco são exemplos ilustres que você tira de dentro do ventre da ditadura brasileira. Bolsonaro não é um deles. Bolsonaro não tem nada de inteligente. Nada. O problema de Bolsonaro não é ser militar. O problema de Bolsonaro é ser Bolsonaro.
Trump não foi levado a sério nos Estados Unidos, e hoje está assombrando a Casa Branca.
Bolsonaro tem de ser levado a sério no Brasil, antes que seja tarde.
Cara de pau
A delação da Odebrecht vem aí. Poucos políticos restarão sem mancha. Eles sabem disso e estão se movimentando para tentar se salvar. A indicação de Alexandre de Moraes para a vaga do STF faz parte desse movimento.
O medo da Justiça está tirando de Temer até a sutileza. Indicar um ministro do seu governo para o tribunal que provavelmente o julgará é mais do que falta de ética: é desfaçatez. Ou, em linguagem popular, uma tremenda cara de pau.