Lá estava aquele esquilo, hesitante entre os dois grandes carvalhos. Se subisse no de lá, o Inter cairia; se subisse no de cá, não cairia. Eu em expectativa, com o Professor Juninho ao telefone. Ele nervoso:
– Ele subiu? Ele subiu?
Ainda não havia subido.
Por que era importante saber em que árvore o esquilo subiria? Se você não leu a crônica de ontem, explico: tive uma premonição, enquanto conversava com o Juninho pelo celular. SENTI, e senti com força, que a árvore a ser escolhida pelo esquilo indicaria o destino do Inter. Para um lado, rebaixamento; para o outro, salvação.
Era um esquilo ruivo, e não existem esquilos ruivos. Já vi pretos, já vi albinos, já vi marrons, já vi cinzentos. Ruivo, era o primeiro. Ele se mantinha indeciso, apoiado nas duas patas traseiras, as mãozinhas para cima, postas como um ser humano em oração.
Ah, você não acredita em premonições?
César também não acreditava.
César, que digo, é o mais famoso deles: Júlio. Certa manhã, ele desprezou augúrios e cometeu o seu mais irreparável erro. Incréu em vaticínios, mas crente na própria sorte. Um dia, durante uma de suas campanhas militares, teve de enfrentar o mar em um barco precário. As ondas violentas ameaçavam despedaçar o barquinho, e os remadores, de olhos arregalados, começaram a suplicar pela proteção de Júpiter. Olhando para eles, César, sorrindo sempre, tranquilizou-os:
– Não tenham medo: vocês estão com César e sua fortuna.
Fortuna, no caso, não era dinheiro; era sua boa ventura.
Mas aconteceu a manhã a que me referi acima: os idos de março de 44 a.C. Ou seja: 15 de março. Na véspera, dia 14, César havia promovido um jantar em sua casa, durante o qual, por brincadeira, os convidados diziam que tipo de morte mais lhes agradaria. César respondeu:
– A repentina.
De madrugada, sua mulher, Calpúrnia, teve pesadelos com ele. Ao acordar, ela lhe pediu que não fosse ao Senado naquele dia:
– Tenho um mau pressentimento – avisou.
Ele desdenhou.
Quando saiu para ir ao Senado, deparou nas ruas de Roma com um vidente que, tempos atrás, o havia advertido:
– Cuidado com os idos de março.
César gracejou:
– Os idos de março chegaram e não me aconteceu nada.
O vidente respondeu:
– Chegaram, mas não passaram.
Ao entrar no Senado, um mensageiro entregou-lhe um bilhete, avisando da conspiração. César não o abriu. Ainda tinha o bilhete nas mãos quando os senadores o apunhalaram 23 vezes.
Certas premonições, portanto, devem ser levadas a sério. A minha sobre o Inter, por exemplo. Naquele dia, eu olhava para o esquilo, esperando para ver em que árvore ele subiria. O Juninho, do Brasil, por telefone, gritou:
– O Inter cai se ele subir na árvore da esquerda ou da direita?
Eu:
– Da direita!
Ele:
– Mas a da direita tua ou dele?
Vacilei. Pensei um segundo. Não sabia o que responder. Não tinha pensando nisso. Para complicar, o esquilo botou as patas dianteiras no chão e fez um movimento de meia-volta volver. Antes estava de frente e agora havia ficado de costas para mim. E agora? A árvore que estava à direita dele, e à minha direita também, agora estava à esquerda dele e à minha direita. Para o Inter se salvar, ele não podia escalar a da direita. Certo. Mas qual era a da direita?
Então, ele subiu na árvore.
– Subiu! – gritei para o Juninho.
– Direita ou esquerda? Direita ou esquerda?
Era a árvore à esquerda da posição dele e à direita da minha. Jesus! Que árvore vale? O Inter vai cair? Ou vai se salvar? Vou passar o fim de semana no mesmo parque, esperando o mesmo esquilo, torcendo para ser assaltado pela mesma premonição. Segunda, talvez, saiba a resposta. Aguarde.