As feministas têm razão quando dizem que todo homem é um estuprador em potencial.
Você, homem tão sofisticado que se detém para ler o jornal, haverá de protestar:
– Eu não sou estuprador!
Decerto que não. Como não é assassino. Mas tem, no recôndito mais sombrio da alma, potencial para ser ambos.
O homem é naturalmente mais agressivo. Vide a população carcerária, majoritariamente masculina. Vide os acidentes de trânsito fatais, quase sempre causados por homens. Mas não tem de ser assim. Não deve. Nem pode.
Mata-se, no Brasil – 60 mil pessoas por ano. Estupra-se, no Brasil – 13 mulheres por dia só no Rio de Janeiro. A diferença é que mesmo o matador mais frio está consciente de que cometeu um crime monstruoso. O estuprador, não. Os 30 homens que estupraram uma jovem no Rio, dias atrás, jactaram-se do que fizeram e postaram cenas na internet. Como se fosse natural.
Não é. Porque não somos bichos. Somos homens. Tornamo-nos homens.
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A cultura do estupro é ancestral.
Uma das principais armas de desmoralização do inimigo, nas guerras, é o estupro. No caminho para a tomada de Berlim, na II Guerra, os russos estupraram 2 milhões de alemãs, debaixo de consentimento e até incentivo oficial.
Quando você ouvir falar em "rapto" de mulheres na Idade Média ou na Antiguidade, entenda "estupro".
Os romanos primevos raptaram as sabinas e as tomaram como esposas – depois de violentá-las, claro. Os sabinos, furiosos, queriam a guerra. Mas as sabinas, tendo passado algum tempo com os romanos, argumentaram que eles já tinham se tornado seus maridos. "Se houver guerra e vocês perderem", argumentaram elas, "perderemos nossos pais e irmãos. Se vocês vencerem, perderemos nossos maridos". Os sabinos se deixaram convencer e os povos se fundiram, em vez de se dizimarem.
Perceba a naturalidade com que a violência era encarada.
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Gengis Khan, o maior estuprador da História, dizia:
– Não existe prazer maior do que derrotar o inimigo, tomar suas posses, cavalgar seus cavalos e violar suas mulheres.
Seguindo essa máxima, Gengis Khan se tornou um sucesso genético: calcula-se que cerca de 32 milhões de pessoas descendam dele hoje, mil anos depois de sua morte. São os filhos de milhares de estupros.
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Se o macho humano pudesse, continuaria vivendo como bicho. Foi assim na maior parte do tempo. Se for verdade que o Homo sapiens surgiu há 200 mil anos, 95% desse período ele o passou em nomadismo, quase sem regras, a não ser a do mais forte.
Foi a mulher que civilizou o homem. Mais especificamente, a mãe. Não é por acaso que as deusas das épocas remotas da humanidade eram deusas-mães. Venerava-se A Grande Mãe. Porque, quando não se sabia nem qual era o papel do homem na reprodução, a mãe era a referência.
As necessidades da mãe criaram a civilização. Quando grávida, a mulher tem dificuldades para se deslocar. Quando pequenas, as crianças demandam cuidados. É preciso ficar, não estar em movimento. As mulheres, as mães, inventaram o sedentarismo, a agricultura, a propriedade privada, o capitalismo e a civilização.
E qual é o significado real de civilização?
É repressão.
A civilização nada mais é do que o controle do instinto humano.
Que se dá através dos costumes.
Que se transformam em lei.
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Voltamos agora ao caso do crime horrendo ocorrido no Rio. Por que aqueles homens cometeram tamanha brutalidade contra aquela garota?
Porque podiam.
Porque a lei brasileira é leniente. É permissiva e, sendo permissiva, "permite" qualquer coisa a qualquer um.
Os menores que violaram a menina não serão presos. Se forem detidos, estarão soltos em no máximo três anos. Os adultos tampouco ficarão muito tempo na cadeia.
Eles sabem disso.
Isso tem de mudar.
A lei nos humaniza. A repressão nos civiliza. Há que se endurecer a lei para casos de estupro. Há que se tratar monstruosidades, como a que ocorreu no Rio, exatamente como o que são: monstruosidades.
O Brasil precisa de repressão. Repressão pela lei. Precisa de punição. A punição educa. Lembre-se: a punição educa.