Acabo de completar um ano ocupando este espaço. Nesse período, escrevi 48 colunas sobre os mais variados assuntos. Educação, trânsito, saúde, eleições americanas, apostas – nunca vou me conformar com o fato de o governo ter deixado esse setor desregulado por tanto tempo, mas não vou falar disso hoje –, reformas estruturais, democracia, política, cinema, tecnologia, histórias felizes, tristes e até me arrisquei a escrever sobre música, sobre o rock.
Sempre que adequado, ofereci alternativas para solução de problemas. São contribuições para o debate que considero necessárias. Sucedi meu colega, ator, escritor e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha, que considero muito mais inteligente do que eu. Minha vocação, claro, sempre foi a fala. Trabalhei na Rádio Gaúcha por mais de 20 anos e na RBS TV entre 2008 e 2012. Em julho de 2021, aconteceu uma mudança drástica na minha vida. Logo depois do fim do meu tratamento, a RBS me ofereceu este espaço, que ocupo com muito orgulho. Perdi a qualidade da voz e o equilíbrio. Mas, depois de tudo o que passei, isso são detalhes.
Apesar do tratamento de praticamente um ano, nunca perdi a capacidade cognitiva, o entendimento das coisas. Em inúmeras internações, passei a ler ainda mais. Estar numa cama de hospital me deu mais tempo para a leitura. Durante o tratamento, numa das minhas internações, o oncologista André Fay perguntou qual livro eu estava lendo. Mostrei a capa. Ele passou a mão como se estivesse acariciando um gato e disse: “Adoro esse personagem”. Um ano e meio depois e recuperado do câncer, fui fazer uma consulta preventiva na clínica dele e levei aquele livro de presente. Era a minha forma singela de agradecimento.
Não sou melhor ou pior do que qualquer um. Sou apenas agradecido às pessoas que cruzaram minha trajetória. E sempre serei. O câncer quase tirou minha vida, e não vou mudar características pessoais. Sou assim desde os meus cinco anos, vendo meus pais. Com eles aprendi valores como a ética e o hábito da leitura. Eles não precisaram impor, apenas agiam.
Em 2023, mais de 30 anos após a infância, aprimorei minha escrita como colunista e, como sempre, evoluí. Em 2024, espero ser melhor ainda com as palavras. É uma forma de manter a voz ativa. Nunca desisti e, com certeza, não será no novo ano que desistirei.