Oitos pessoas mortas em acidentes de trânsito chamaram a atenção da serra gaúcha no fim de semana. Em um deles, no sábado (8), na RS-122, em São Vendelino, três jovens morreram. Infelizmente, não foi o primeiro, nem será o último naquele ponto.
Na mesma estrada, anos atrás, vi um acidente acontecer na minha frente. No choque, duas pessoas morreram. Era uma cena dantesca, com pessoas correndo de um lado para a outro, desesperadas, tentando tirar os corpos no meio de ferros retorcidos.
Ali perto, existe um posto da Polícia Rodoviária onde na frente ficavam expostos carros acidentados. Seria mais um a figurar naquela galeria fúnebre, pensei mais tarde. As condições climáticas eram parecidas nos dois casos: água da chuva acumulada na pista provocou aquaplanagem no carro. Alguns dias depois da tragédia, duas cruzes foram colocadas no canteiro central como lembrança de que ali acontecera um acidente com morte.
Algum tempo depois, na RS-285, no noroeste do Rio Grande do Sul, cansei de contar as cruzes fincadas no acostamento na estrada, num trecho de poucos quilômetros. Eram muitas e por trás de cada uma havia uma história de vida. Cada pessoa que se foi fez família e amigos muito tristes. Para o repórter, foi impossível escolher uma como “símbolo” para um desdobramento da reportagem. Todas ali tinham o mesmo peso. Diante da morbidez, fiquei impossibilitado de fazer escolhas. Anotei vários nomes de pessoas que estavam escritos naquelas cruzes. Com mais de 30 nomes na minha lista, os anônimos se tornaram histórias mais emocionantes.
Cuidadoso ao volante, nosso motorista ficou chocado quando mostrei meu bloco cheio de detalhes daquelas vidas. A maioria das vítimas era de jovens, mas também havia pessoas idosas. Não havia distinção de gênero ou classe social. Motoristas, passageiros, caminhoneiros e pedestres morreram. A fatalidade não é "privilégio" de alguns, não escolhe vítimas. Temos que pegar a estrada cientes disso. Melhor ainda, chegar no destino são e salvos.