Desempregados oportunistas, na década de 1930, postavam-se na frente do Palácio Piratini à espera do então governador Flores da Cunha. Quando ele saía, grudavam-se no emotivo político para reclamar da vida. Choroso, ele pedia aos assessores que providenciassem um emprego público ao reclamante. Getúlio Vargas, quando era governador gaúcho, antes do golpe nacional de 1930, tinha o hábito de passear pela Rua dos Andradas, onde os porto-alegrenses praticavam o footing. Se bem convencido, também distribuía empregos.
Só isso não justifica o atual inchamento da folha salarial do Estado, mas ajuda a explicar como os velhos políticos tratavam o poder público: sempre cabia mais um, afinal, não saía do bolso deles. Um dia, a conta dos abusos chega e aperta no calo do gaúcho. Faz tempo que ela chegou. O governo e nós, sociedade, pagamos.
O Estado tem dificuldade para contratar e fazer investimentos. Os governantes reclamam que não têm dinheiro. E não têm mesmo, mas brigam em campanhas renhidas para assumir o poder. Então, precisam oferecer respostas.
Os problemas são históricos e reais. Temos, no serviço público, mais aposentados do que funcionários na ativa. É direito deles, que não são os culpados. O ponto é que ninguém se preocupou com o inchaço da máquina pública. Em fevereiro desse ano, a Secretaria da Fazenda contabilizou 140.653 vínculos ativos para 173.749 inativos. A disparidade é chocante em matéria de gasto público.
As distorções não são exclusividade gaúcha, a história é reveladora. Gregório Fortunato, o Anjo Negro do Catete e capanga de Getúlio Vargas, contratou um homem chamado Alcino, que recebeu a ordem de matar Carlos Lacerda, inimigo de Vargas em 1954. O pagamento seriam 200 mil cruzeiros e um emprego de inspetor de polícia no Estado do Rio de Janeiro.
A sinecura também vem acompanhada do vergonhoso jeitinho brasileiro. Levamos a pecha com razão, como mostram eventos históricos. Depois de passar quatro anos no Brasil, Saint Hilaire decidiu retornar à França. Sem conseguir um presente tipicamente brasileiro, acionou o governador de São Paulo na época, que respondeu assim: “Mas você passou tanto tempo no Brasil e não aprendeu a falar com a pessoa certa?”. Como se vê, já no século retrasado se recorria ao “carteiraço”. E nós pagamos a conta.