Harold Adrian Russell era britânico, aluno- prodígio, aplicado estudante das melhores escolas, fez faculdade em Cambridge e acabou tomando o rumo comum para jovens com esse perfil na década de 40: ingressou no serviço de inteligência britânico.
Passou a ser chamado pelo apelido de Kim Philby e revelou seu estilo maquiavélico e ardiloso. Era bem remunerado para entregar planos e dedurar colegas do seu próprio país. Em pleno stalinismo, ele admirava o regime ao qual decidiu servir ao virar um espião russo infiltrado na então terra da rainha.
Os soviéticos eram especialistas em mudar a história. “Esqueceram” que Stalin havia sido um terrorista quando jovem na Geórgia e apagaram Trotsky das fotos com colegas bolcheviques, como se fatos pudessem ser alterados ao bel-prazer.
Philby espionou para essas pessoas por décadas a fio, entregou muita gente que foi morta. Acabou exilado em Moscou, morreu em 1988. A história dele foi contada pela primeira vez na biografia escrita pelo jornalista Phillip Knightley, intitulada Philby. É uma trajetória cuja motivação é ideológica, e o resultado é trágico. Philby entregava, sem remorso, segredos britânicos. A inteligência soviética não poderia ter recrutado uma pessoa mais bem informada do que Philby.
Em 2015, o jornalista Ben Macintyre pesquisou novos documentos e descobriu mais segredos sobre Philby. Escreveu uma biografia sobre o espião dos espiões. Era coisa para filme de Hollywood, mas os americanos também tiveram problemas domésticos com seu superespião, Aldrich Ames, outro agente duplo, recrutado pelos soviéticos no topo da CIA, que espionava por dinheiro, não por ideologia como Philby. Hollywood parece ter ficado constrangida de contar a história de um entreguista britânico tendo um com viés tão capitalista em seu quintal.
Agora, finalmente, os britânicos estão assistindo à excelente série A Spy Among Friends (Um Espião entre Amigos), que conta as peripécias de Philby em atuações dos astros Damian Lewis (Homeland e Billions) e Kevin Bacon. Sem dar spoiler, o final da disputa é que a espionagem não feriu o comunismo. O muro de Berlim caiu, em 1989, porque que a população não aguentava mais ser espionada pela Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. E a União Soviética se dissolveu, em 1991, porque os jovens, igualmente, ansiavam por liberdade. Bilhões gastos e centenas de vidas perdidas para uma disputa sem resultado.