Numa noite gélida e chuvosa em 13 de março de 2013, milhares de pessoas tomaram a Praça de São Pedro, a esplanada do Vaticano, para assistir ao desfecho do conclave, reunião de mais de 115 cardeais para a escolha do papa.
Quando a fumaça branca fumegou da chaminé da Capela Sistina, era o sinal de confirmação da escolha do novo papa, que iria suceder a Bento XVI. A praça irrompeu em festa. Um pouco era de alívio, para poder escapar da chuva, mas a comemoração maior era pelo fato de que os cardeais haviam chegado a um consenso depois da quinta votação. O Brasil era o único país que tinha “torcida organizada” em favor do cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. Em vão, porque, em tese, a escolha do papa se dá em segredo pelos cardeais reunidos sob os afrescos pintados por Michelangelo.
Tive o prazer de narrar esse momento, ao vivo, para a Rádio Gaúcha. Quando o até então cardeal jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio apareceu na sacada central da basílica, o Vaticano estava em festa. O religioso assumiu o comando da Igreja Católica num momento-chave: a fuga de fiéis para igrejas pentecostais.
Francisco, nome que adotou como papa, não usa sapatos caros, tampouco relógios suíços. É frugal até demais, segundo dizem os mais próximos. É um argentino na essência: bonachão, austero, adora fazer brincadeiras sobre futebol, tudo muito discretamente. Aos 86 anos, anda em cadeiras de rodas para poupar um dos joelhos. No alvorecer de 14 de março de 2013, já Papa, fez questão de ir pessoalmente até a residência vaticana para buscar os seus pertences pessoais e, pasmem, pagar a sua conta.
Nesses 10 anos, tocou em temas delicados como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e os abusos cometidos por padres católicos contra crianças. Administrou bem o equilíbrio necessário entre progressistas e conservadores da Santa Sé. Foi acusado de ser comunista, uma falsa alegação a qual ele nunca respondeu, mas pode-se julgar pelas suas atitudes. Em visita à Bolívia, ele recebeu do presidente Evo Morales uma escultura em madeira de um crucifixo com o símbolo da foice e do martelo. As imagens mostram Francisco meneando a cabeça em desaprovação. E quem estava perto, ouviu em bom espanhol o Papa disparar contra o chefe de Estado: “Isto não está certo, meu caro!”.
Em 10 anos, Francisco deixou sua marca. Vida longa ao Papa para que deixe ainda mais cristalizado seu legado.