No fim de julho de 2018, último ano do governo Temer, Carlos Marun, então secretário geral do Planalto, anunciou a inauguração da nova ponte do Guaíba, em Porto Alegre. A obra é reivindica há anos dada a fragilidade de uma saída importante de Porto Alegre para o sul e o centro do Estado, que contava apenas com uma ponte antiga que enguiça inesperadamente.
Inauguração enquanto o concreto ainda estava surgindo? O ministro exagerou, mas esta é uma prática antiga. Marun não conseguiu fazer a cerimônia, cujo objetivo era unicamente eleitoral - obter vantagem na opinião pública sem se preocupar com a evolução da ponte.
Quantas vezes você usou algo não concluído? O empresário usufrui de uma área da empresa não terminada?
A ponte, que é uma obra complexa, sim, foi inaugurada há dois anos, no dia 10 de dezembro de 2020, pelo atual governo, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Houve festa, gestos efusivos de patriotismo de deputados federais que aproveitaram para bajular o presidente. Tiraram foto, discursaram e foram embora. Sem que a ponte estivesse terminada.
Inacabada ainda, faltam, dois anos depois, alças importantes, como a que sai da rodovia em direção à Zona Norte - que aguarda a desapropriação das famílias que moram à margem. De fato, é um assunto difícil, mas por que a festa se a obra não terminou? Uma parte importante, como o vão sobre o rio, está pronta e funcionando muito bem. Outra que falta é o braço para acessar a nova ponte a partir da saída de Porto Alegre, fundamental para a nova estrutura.
A história da obra da nova ponte manteve uma tradição antiga no Brasil.
O jornalista Roberto Pompeu de Toledo escreveu uma série de livros sobre a história de São Paulo. Em A Capital da Vertigem, ele lembra que a Anchieta e a Anhanguera, duas das estradas mais movimentadas do Brasil, inacabadas na década de 1940, foram inauguradas aos poucos, como forma de contemplar os governadores da época.
Tão certo quanto a tortuosidade da Torre de Pisa foi o atraso na duplicação da BR-101 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, obra que gaúchos e catarinenses suplicaram para ver pronta. O governo Lula começou, inaugurou e, em Tubarão, Santa Catarina, a estrada só foi liberada no final de 2016.
Certa era afirmação do ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan, que costumava dizer, no início do governo dele, quando cobrado:
— Não começo obra sem data certa para a conclusão.
A lógica era acertada. O problema é que não se aplica às práticas políticas e, verdade, aos anseios dos eleitores.