Houve um tempo em Porto Alegre, no início dos anos 2000, que os repórteres que cobriam a cidade se acostumaram com uma pauta recorrente: as vistorias do então presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) Paulo de Argollo Mendes nas emergência hospitalares. Quase sempre, a mais lotada e criticada era a do Conceição, na Zona Norte.
O doutor Argollo abria as portas para mostrar a emergência, as carências, a lotação, as limitações para atendimento médico. O resultado destas vistorias eram dossiês com fotos e documentos enviados ao Ministério Público e à Secretaria da Saúde pedindo providências.
Argollo virava as costas e íamos atrás de explicações do hospital. O Conceição, a maior emergência da Capital, respondia com promessas de melhorias acompanhadas de uma lembrança importante: essa emergência nunca manda paciente para casa, nunca fecha. Era a maneira de dizer que, apesar das limitações, o paciente nunca ficaria sem acolhimento.
Pois bem, a emergência fechou. A pandemia derrubou a última fronteira em matéria de atendimento hospitalar de Porto Alegre: cerrou as portas da emergência que nunca fechava.
Na manhã desta quinta-feira (11), pacientes que chegavam na porta do hospital eram mandados embora. Quem chega em ambulância ainda tem a chance de esperar para receber avaliação.