Guardião do setor de inteligência do governo de Michel Temer, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, prepara-se para a última missão dada pela atual gestão: organizar a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro (PSL) em 1º de janeiro.
A principal preocupação é com a segurança do presidente eleito, ainda mais levando-se em conta que, na campanha, o então candidato à Presidência foi atacado à faca. Na entrevista a seguir, Etchegoyen, que é gaúcho de Cruz Alta, no Noroeste do Estado, conta que pretende voltar a morar no Rio Grande do Sul no ano que vem e fala sobre a transição e o legado do governo Temer.
Como estão sendo os últimos dias do governo Temer?
Corridos, com muitas reuniões. Por outro lado, está sendo fácil, porque tenho relação muito boa com o sucessor, general Augusto Heleno, que é um amigo fraterno de muitos anos.
Qual é o legado da gestão Temer?
Fica um legado enorme de reformas, o resgate do país em meio a uma crise econômica monumental, a maior da nossa história. O absoluto respeito ao jogo democrático, às regras constitucionais, à convivência entre os Poderes. De minha parte, acho que fica a consolidação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) como órgão de assessoramento imediato do presidente nas áreas de Segurança e Defesa. Além disso, o avanço que podemos ter com os comitês de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro e de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro. Avançamos na reestruturação do GSI, nas relações internacionais com outros países na área de inteligência, na ampliação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da presença dela no Exterior.
Qual foi o momento mais difícil?
Houve três momento críticos. A intervenção federal no Rio, porque ela veio em momento em que a população estava refém do crime organizado, havia apatia do Estado, e o presidente teve a coragem de fazê-la. Outro momento crítico, talvez o mais deles se a gente tiver de graduá-los, foi a greve dos caminhoneiros, quando o país praticamente parou, mas conseguimos superar. O outro foi em Roraima, porque era uma crise humanitária seriíssima. E que segue, atenuadíssima pelas providências que foram tomadas. É uma crise muito localizada, com repercussões humanitárias terríveis.
O fluxo migratório dos venezuelanos está controlado?
Está controlado. Estamos conseguindo interiorizar muitos.
O senhor citou a greve dos caminhoneiros. É possível que, no futuro, o movimento possa ressurgir?
Não vejo a possibilidade. Até porque as reivindicações foram atendidas, eles perceberam que há refluxo nisso. Começaram com um apoio popular muito grande e, de repente, esse apoio despencou.
A situação da segurança no Rio de Janeiro melhorou com a intervenção federal? Até quando vai?
A intervenção vai até 31 de dezembro. Bolsonaro não quer continuar com ela. Acho que trouxe resultados, sim. Exemplo são os índices do Instituto de Segurança do Rio. A imprensa tem noticiado a redução da criminalidade. Bala perdida e policial morto eram notícias diárias. Sumiram do noticiário. Roubos de carga também eram comuns. Os índices estão baixando, com calma, porque aquilo não foi feito em pouco tempo. Para consertar, não é a curto prazo. Há outras questões ligadas à segurança que têm de ser levadas em conta, como urbanização, educação e saneamento básico.
A imprensa tem noticiado a redução da criminalidade. Bala perdida e policial morto eram notícias diárias. Sumiram do noticiário. Roubos de carga também eram comuns. Os índices estão baixando, com calma, porque aquilo não foi feito em pouco tempo.
Como está sendo preparada a segurança para a posse de Bolsonaro?
Nossas medidas refletem o que pensamos: cautela, muita cautela. O presidente eleito levou uma facada. Tenho 66 anos e nunca vi um candidato ser atingido assim. É um ambiente de muito antagonismo, contraposição. Ultrapassamos o limite da divergência política e passamos para o ódio. É preciso ter cuidado. Mas vai ser uma grande festa. O presidente tem de ser protegido.
Que cuidados especiais são esses?
As pessoas que forem à Esplanada vão passar por alguns “desconfortos” de revistas mais rigorosas. A Esplanada dos Ministérios vai sofrer algumas mudanças, algumas restrições antecipadamente.
O GSI identificou algum outro tipo de ameaça ao presidente eleito?
Existe um ambiente de hostilidade que não é em todo o Brasil, claro. Basta ver as mídias sociais. E não quer dizer que quem posta nas redes é o cara que vai fazer, mas isso incentiva o ódio. Olha o sujeito da facada. Isso vai criando um ambiente até que alguém ache que tem de tomar uma atitude e faz uma insanidade. A gente não pode deixar. E não é só a segurança do presidente. Imagina a Esplanada cheia de gente e ocorre um atentado: outras pessoas podem se ferir ou morrer por correrias, descontroles e tudo mais.
A restrição vai ser grande?
A restrição de público, não. Os cuidados. É uma festa popular.
Quem quiser, poderá assistir à posse?
Se couber na Esplanada, sim. Haverá revistas, restrições de trânsito. A pessoa vai precisar caminhar um pouco.
Há recomendação mais enérgica?
São coisas pequenas que vamos discutir com ele. Ele demonstra ser um sujeito muito acessível e sensato quanto a isso.
O próximo governo terá vários militares. Como avalia isso?
Vejo com muito espanto o espanto de vocês. Bolsonaro fez esse discurso, o que queriam que ele fizesse? Quando o governo FHC colocou um monte de diplomatas nos ministérios, vocês fizeram essa pergunta para ele?
Mas não deixa de chamar a atenção.
Chama a atenção porque as cabeças estão no século 20. Ele pegou pessoas do mais alto gabarito, pelo menos as que conheço. Acho que fez belas escolhas, de homens probos que não têm nenhuma mancha e contam com experiência administrativa e formação de uma vida inteira, nas quais ele confia.