Xico Graziano foi um dos primeiros tucanos históricos a abandonar o partido, ainda antes do primeiro turno da eleição presidencial, em outubro, e anunciar apoio a Jair Bolsonaro (PSL). Próximo a Fernando Henrique Cardoso, foi seu chefe de gabinete na Presidência da República, secretário do Meio Ambiente de São Paulo e deputado federal pelo PSDB. Graziano é agrônomo e ambientalista, e com essas credenciais chegou a ser cogitado para assumir o Ministério do Meio Ambiente de Bolsonaro. O ex-tucano diz que não está frustrado pela falta de convite porque nunca almejou o cargo, mas ofereceu ao presidente eleito um diagnóstico detalhado para lidar com o embate campo versus ambientalismo.
Seu nome foi cotado para o Ministério do Meio Ambiente. Chegou a ser convidado por Jair Bolsonaro (PSL)?
Não fui convidado. Fui consultado sobre os temas que estavam em pauta na questão da agricultura versus meio ambiente, naquele período em que o presidente eleito imaginava fundir as duas pastas. Nesse contexto, tive conversas com ele. Mas isso nunca envolveu nenhum convite.
Qual o grande desafio da agenda ambiental do Brasil?
No Brasil, o ambientalismo foca muito na questão da agricultura. Então é agricultura, desmatamento e biodiversidade, aquilo que chamamos no contexto das políticas ambientais de questões verdesa. Só que, progressivamente, os problemas ambientais do Brasil e do mundo todo, cada vez mais, estão presentes nas cidades, especialmente nas metrópoles. O Brasil é o país no mundo que pensa meio ambiente e pensa agricultura, e normalmente briga com a agricultura. Nos outros lugares, não há esse foco tão puxado. Por exemplo: os rios foram todos destruídos pelas cidades, poluídas pela falta de tratamento de esgoto. Até hoje, não tratam o esgoto como deveriam. Além da questão de saúde pública e saneamento, é um problema ambiental terrível sobre o qual as entidades ambientalistas pouco ligam. É como se não fosse um problema. Então, pega no pé do agricultor, mas não olha para a questão da cidade, do urbano. Esse é um defeito da política ambiental brasileira. Bolsonaro disse que precisa acabar com essa encrenca, e concordo plenamente. Quer dizer, não é só acabar com a encrenca do meio ambiente com a agricultura, é prestar atenção nos outros assuntos importantes.
O senhor sugere que o meio ambiente está contaminado pela ideologia?
Se por um lado há um foco muito grande em agricultura, por outro o ambientalismo brasileiro é muito esquerdista. Existe um problema ideológico, ligado à política. Por essa razão, aqui no Brasil, como já aconteceu em alguns lugares, como Portugal, muitos dizem que os ecologistas são como melancias: são verdes por fora e vermelhos por dentro, são socialistas ou comunistas. Isso é, em parte, verdadeiro para o Brasil no que tange o movimento ambientalista. Não estou me referindo às entidades ambientais, especialmente às principais, como SOS Mata Atlântica, WWF e Conservation International. São entidades sérias. Estou me referindo ao movimento político do ambientalismo, porque ele é muito esquerdista. Sempre combati isso, sempre escrevi contra isso e acho que, agora, o governo que vai tomar posse poderia tirar a ideologia da política ambiental. Política ambiental é importante na direita, na esquerda, no centro. Não tem de ter ideologia quando se pensa em sustentabilidade.
O presidente eleito tem razão quando fala que o Ibama multa excessivamente e é movido por ideologia?
Tem total razão. Quando conversei com ele, disse que não só ele tinha razão como a situação era mais grave ainda. O problema não é só o Ibama. Os órgãos ambientais dos Estados também cometem isso: multam exageradamente, cobram pedágio para dar licenças e para escapar de multa. Não é brincadeira essa corrupção que domina o poder público.
O problema não é só o Ibama. Os órgãos ambientais dos Estados também cometem isso: multam exageradamente, cobram pedágio para dar licenças e para escapar de multa. Não é brincadeira essa corrupção que domina o poder público.
Mas aí é combate à corrupção, não ideologia.
A melhor forma de enfrentar isso é dando transparência aos processos, colocando tudo aberto na internet. Porque os fiscais ou aqueles que fornecem autorizações trabalham com grau muito grande de subjetividade e as normas são meio exageradas. Existe exagero da legislação e poder discricionário muito grande dos órgãos ambientais. Então, é preciso realmente botar o dedo nessa ferida.
Mas isso não significa que os órgãos ambientais tenham de se preocupar com o desmatamento da Amazônia ou do Mato Grosso?
Não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas se misturam. Hoje, no Brasil, os agricultores em geral não gostam quando se fala em meio ambiente. Dou aula e sei disso, meus alunos são agricultores ou são gerentes e administradores. (A visão do) meio ambiente é atrapalhada com a lerdeza, a corrupção, o exagero etc. Quando você pergunta se precisamos preservar, todos concordam que precisamos. Realmente está na hora de dar um freio de arrumação na política ambiental do Brasil, e acredito que Bolsonaro está com esse desejo. Tomara que ele consiga fazer.
O senhor ficou frustrado por não ter sido convidado para ser ministro?
Não me frustrou porque não esperava. Nunca militei politicamente ao lado do Bolsonaro, nem daqueles que fizeram a campanha com ele. Sempre fui ligado ao PSDB, sou fundador histórico do partido. Saí para apoiar Bolsonaro porque entendia que ele era a pessoa certa para enfrentar a ameaça do retorno do PT ao poder.
O que houve com o PSDB nesta eleição?
Na eleição deste ano, não sei. O PSDB foi perdendo a sua razão de ser durante toda a trajetória desses últimos anos, distanciando-se dos seus ideais e das suas ideias. Enfim, foi realmente uma tragédia que acometeu não só o PSDB, mas, infelizmente, quase todos os partidos. As legendas brasileiras estão destruídas. Cá entre nós, elas não servem para quase nada.
Por que isso aconteceu no PSDB?
Dizem que nunca é uma razão só que derruba um avião. Foram vários fatores. Um deles foi o fato de que o PSDB não soube renovar a sua proposta para o país.