Alvo de enxurrada de denúncias sem comprovação pelas redes sociais, a urna eletrônica, em uso no país nas últimas 11 eleições, virou o alvo preferencial desta campanha por quem se alimenta de teorias da conspiração. Vídeos de supostas fraudes no equipamento e boletins de urna manipulados inundaram as caixas de mensagem do WhatsApp de todos nós. As denúncias, no entanto, nunca foram comprovadas. No segundo turno, a campanha de difamação continua. Um dos criadores da urna, em 1996, Giuseppe Janino está à frente da Secretaria de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral e tenta, na entrevista a seguir, derrubar mitos e inverdades sobre o processo eleitoral.
A urna eletrônica nunca foi tão questionada, inclusive por candidatos. Como avalia esses questionamentos?
Houve estratégia de tentativa de difamação do processo eleitoral brasileiro, especificamente com a urna eletrônica. É uma manobra muito bem orquestrada, com muitas informações falsas sendo difundidas nas redes sociais, principalmente no WhatsApp, tentando efetivamente manchar uma história de 22 anos de um processo eleitoral íntegro e idôneo em que tivemos como centro a urna eletrônica. Nesses 22 anos de história do equipamento no Brasil, não há um caso de fraude. Tenta-se massivamente desqualificar o processo eleitoral brasileiro que, inclusive, foi acompanhado no primeiro turno pela OEA (Organização dos Estados Americanos), que homologou e compareceu a todas as etapas do processo e considerou-o íntegro, seguro e confiável. Essa onda é desserviço para a própria democracia à medida que coloca sob suspeição o instrumento que dá acesso à escolha dos candidatos.
De onde surgem esses questionamentos?
A origem disso não compreendemos. É uma manobra bem orquestrada que utiliza recursos como robôs, produzindo informações falsas e propagando-as nas redes sociais, formando opinião totalmente apartada da realidade. A nossa história comprova que temos um processo efetivamente íntegro, seguro e transparente. Todas as suspeições que foram levantadas no pretérito sobre o processo eleitoral foram devidamente investigadas. Temos o caso recente, inclusive, da última eleição para presidente em que o candidato derrotado (Aécio Neves, do PSDB) pediu auditoria e a executou, conforme ele quis. Foram inspecionadas pelo partido urnas específicas para auditoria profunda e tudo foi verificado. Não se conseguiu sequer identificar uma não conformidade. Ou seja, isso é evidência fática. Não é simplesmente teoria, onda conspiratória contra uma instituição tão séria como é a Justiça Eleitoral.
Críticos alegam que até sistemas de segurança mais rigorosos, como os do Pentágono ou da Nasa, podem ser invadidos. Como responde a essas dúvidas?
Esse é um grande mito, e muito fácil de ser respondido. A urna eletrônica foi concebida em seus requisitos de segurança para ser um dispositivo isolado. Ela não é conectada a nenhum dispositivo de rede, muito menos à internet. Então, esse papo de dizer que o hacker que invade a Nasa, o Pentágono, o FBI ou o Facebook poderia invadir a urna eletrônica é totalmente falácia. Ela é isolada e, por isso, consegue resistir a todas essas ondas de ataques que existem no mundo.
Outro argumento utilizado por críticos é de que diversos países não utilizam o equipamento.
Isso também é grande mentira. Existem pelo menos 25 países no mundo que adotam a urna eletrônica bem semelhante a nossa. A fonte da informação é o Idea (Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral), que é um instituto internacional que visa a promoção da democracia no mundo. Isso é comprovadamente verificado. Inclusive nos próprios Estados Unidos, em seus 50 Estados, pelo menos 11 usam uma urna eletrônica muito semelhante à brasileira e que, inclusive, não imprime o voto. Então, essas histórias que se difundem são totalmente mentirosas, caluniosas e falaciosas.
Inclusive nos próprios Estados Unidos, em seus 50 Estados, pelo menos 11 usam uma urna eletrônica muito semelhante à brasileira e que, inclusive, não imprime o voto. Então, essas histórias que se difundem são totalmente mentirosas, caluniosas e falaciosas.
GIUSEPPE JANINO
Secretário de Tecnologia da Informação do TSE
O próximo passo do processo eleitoral é a biometria. Essa etapa será concluída até a próxima eleição?
Hoje, temos base de dados de mais de 87 milhões de cidadãos cadastrados biometricamente, divididos em 2.793 municípios que já têm 100% dos eleitores cadastrados, 1.533 municípios que têm parte dos eleitores cadastrados e apenas 1.415 municípios que ainda não têm a biometria inserida no banco de dados (no Brasil, há 5.570 municípios. Na contagem, o TSE também leva em consideração 171 cidades no Exterior). Hoje, chegamos a pouco mais de 60% do eleitorado cadastrado. Em 2022, queremos ter 100%. Isso requer esforço muito grande da Justiça Eleitoral.
No primeiro turno, eleitores enfrentaram filas em cidades que ainda não haviam concluído a biometria. O TSE esperava por isso?
Tivemos, no primeiro turno, eleição com seis cargos (em disputa). Isso só acontece de oito em oito anos. E com a inserção da biometria, ela agrega um pouco mais de tempo no processo de identificação. Não traz celeridade, mas precisão: a garantia de que aquele cidadão que está ali é o mesmo que se registrou. Então, somando-se o aumento do percentual de biometria e essa eleição com seis cargos, o tempo de votação do eleitor realmente aumentou e isso impactou nas seções eleitorais. Também impactou a falta de instrução do eleitor no sentido de que levasse as colinhas para dar celeridade no momento da escolha dos candidatos e para que não houvesse confusão e erros na hora de se digitar.