Americanos adoram acrônimos, aquelas letrinhas que substituem expressões. E como o inglês é a língua que dita as regras de comunicação na internet, algumas das abreviações mais populares acabaram sendo incorporadas ao idioma universal das redes sociais e das mensagens por celular: OMG (“Oh my God!”), BFF (“best friends forever”), YOLO (“you only live once”), LMAO (“laughing my ass off”), POV (“point of view”), TBH (“to be honest”)... A lista não tem fim. Os acrônimos estão também nos manuais de medicina (substituindo os termos mais assustadores pelas letrinhas mais inocentes), na comunicação corporativa, na linguagem cifrada que os adolescentes inventam para driblar a fiscalização dos adultos e até nas mensagens românticas (ou eróticas).
Às vezes, um acrônimo pode sintetizar um estilo de vida, uma visão de mundo ou mesmo um fenômeno social. NIMBY, abreviação para “Not in my backyard” (não no meu quintal), por exemplo, é usado para descrever a mobilização dos moradores de uma determinada localidade para barrar um projeto considerado prejudicial para a vizinhança – como a instalação de uma mina de carvão ou a construção de um presídio.
Outro acrônimo popular por aqui no momento é DYOR (“do your own research” ou “faça sua própria pesquisa”), que não tem nada a ver com a grife de luxo francesa, mas não deixa de estar na moda. Nos Estados Unidos, quando alguém diz que está fazendo “suas próprias pesquisas”, raramente está se referindo àquela googleada básica de quem está pensando em comprar um ar-condicionado novo ou precisa aprender como se tira mancha de vinho do tapete. Em geral, a expressão está associada a pessoas que buscam fontes de informação que contrariam a opinião massiva dos especialistas. Os DYOR desconfiam da ciência, do jornalismo, das pesquisas de opinião, dos tribunais, da democracia, mas estão prontos a acreditar na teoria conspiratória mais maluca que descobriram por conta própria nos confins da internet ou no grupo do zap.
Uma pesquisa séria, dessas que ganham a chancela de instituições científicas de prestígio, pode levar anos antes de ser publicada. Para uma informação falsa criar incerteza, basta uma semente de dúvida, um boato, um estudo mal feito, e o estrago está feito. Depois que alguém se convence de que as vacinas fazem mal, as mudanças climáticas não são motivo de preocupação ou o sistema eleitoral não é confiável, não é muito difícil encontrar quem esteja disposto a confirmar essas desconfianças.
Nesses casos, “fazer a própria pesquisa” é o contrário de exercer a liberdade de pensar e formar opinião. Trata-se, na verdade, de abdicar do esforço de analisar a qualidade da informação que se está levando para casa. Mais ou menos como quem aceita pagar o preço de uma bolsa Dior por uma falsificação da marca DYOR vendida no camelô da esquina.