Um dos maiores lugares-comuns a respeito da vida digital é o de que todo mundo consegue encontrar sua turma na Internet. Nada mais falso. É verdade que a tecnologia ajuda pessoas que compartilham os mesmos gostos e interesses a se aproximarem e trocarem figurinhas, mas um coletivo de indivíduos com afinidades e objetivos comuns não constitui necessariamente uma turma – esse conjunto de extensão limitada em que cada um dos integrantes se reconhece e é reconhecido como único e insubstituível. Viver em rede é uma opção, um estilo de vida, dividir momentos de alegria e tristeza com uma turma (ou mais de uma) ao longo dos anos é um privilégio.
Ninguém faz “networking” para trocar confidências ou relembrar as mesmas anedotas antigas que todo mundo, por algum motivo, continua achando engraçadas. A rede é pragmática, utilitária, guiada por interesses. Um sujeito que você mal conhece anota o seu telefone e pá: lá está você, enredado a um grupo de pessoas no WhatsApp que pode ser tudo, menos uma turma com a qual você gostaria de dividir uma casa em Santa Catarina durante o Carnaval.
Qualquer um que já tentou se enturmar sabe que a dinâmica de aceitação de um membro novo em um grupo é complexa. Uma turma tem histórias, repertórios, referências e ritmos próprios. O novato passa por um período de aclimatação antes de ser aceito – e, às vezes, mesmo estando por perto, nunca é verdadeiramente integrado. Quanto mais unida a turma, mais chances de surgirem satélites em sua órbita – como músicos de apoio acompanhando uma banda famosa durante uma turnê.
Para encontrar, entre tantas, aquela que é a sua turma, é preciso ter a sorte de cruzar com as pessoas certas quando se está disponível para esse tipo de convívio intenso e prolongado. Quanto mais cedo, melhor, mas nunca é tarde para topar com amigos ou colegas que “dão liga”, mesmo quando têm pouco ou nada em comum. (Algumas das minhas melhores experiências de turma surgiram do encontro de indivíduos com temperamentos e origens diferentes que compartilhavam pouca coisa além do prazer de estarem juntas).
Uma turma é como um grande amor: pode durar a vida toda, mas se você não cuidar, vira rede.