A depressão é uma doença psiquiátrica muito séria, que precisa ser tratada com a devida profundidade. Todas as pessoas, das mais diferentes questões pessoais e áreas de atuações no trabalho, estão sujeitas a sintomas que se enquadram na afetação emocional. O ex-volante do Grêmio, Michel, revelou em entrevista ao podcast Charla, no YouTube, que tentou tirar a sua vida.
Os jogadores de futebol lidam com a pressão do dia-a-dia, cobrança da torcida e muita necessidade de estar bem fisicamente... e emocionalmente. Michel, atualmente com 33 anos, fez sete cirurgias no joelho desde 2017. Neste período, conviveu com muitas dores. Quando estava no Vasco, acabou rescindindo o contrato e ficou em casa durante a pandemia. Neste momento, segundo o que ele disse na entrevista, pensou em tirar a sua vida pelo fato de não conseguir mais jogar.
— Não conseguia jogar, não conseguia sair de casa. Teve fatos de tentar se cortar, de querer se matar. Eu sei que é forte, mas é a realidade. Não sou só eu que passo. Não fui o primeiro e não sou o último — afirmou o atleta, que atualmente está sem clube.
A coluna entrou em contato com dois profissionais do ramo para falar sobre a importância do cuidado pela saúde mental, principalmente no âmbito do esporte. O professor do Curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde da PUCRS e especialista em Psicologia do Esporte, Lucas Rosito, dissertou sobre a carga exigida em um atleta profissional:
— Quando falamos de jogadores de clubes grandes, há uma tendência de minimizar o aspecto humano dessas pessoas e colocá-las a partir de uma perspectiva ideal. Se o sujeito joga em um grande clube e tem uma remuneração de destaque, a tendência é classificá-lo como alguém muito bem sucedido. Consequentemente, é inerente a uma condição de saúde mental, felicidade, de sucesso, de bem-estar.
Rosito relatou ainda que, a exigência no ambiente futebolístico, junto à exposição dos profissionais, influencia na perspectiva pessoal do indivíduo, como já poderíamos imaginar:
— A carreira do atleta de futebol começa muito cedo. Rouba não só a juventude, a infância e a adolescência, mas também a perspectiva em termos de identidade com outras características. O atleta de futebol acaba se identificando como atleta de futebol em um único aspecto. E tudo isso de forma contínua. A pessoa precisa bem-suceder todo final de semana, toda a temporada. Imagina viver sobre essa pressão durante 10, 15, 20 anos.
Conversando com Caroline da Luz Pereira, Neuropsicóloga da Ava Psicologia, foi possível também compreender mais ainda que o acompanhamento de um profissional da saúde é extremamente necessário para os atletas de alto rendimento:
— (O jogador) precisa de uma manutenção diária ou semanal, para ver como está, o que tem se passado emocionalmente, o que acontece dentro da família. Esses atletas muitas vezes são só vistos como atletas, mas são humanos, tem vulnerabilidades e outros problemas pessoais que precisam ser olhados.
Falta de lazer
É nítido que o tempo de carreira e a rotina complexa, com concentrações e viagens exacerbadas, fazem com que os jogadores fiquem mais tempo longe de casa. Caroline traz muito bem o problema quanto a isso. A neuropsicóloga relatou a situação que o atleta profissional se coloca ao não conseguir o desempenho como gostaria dentro de campo, enquanto ainda está fora de casa e, também, deseja desempenhar um papel na família.
Já Lucas, também ressalta a perda do tempo lúdico do atleta. Não fica o tempo que gostaria com quem ama, além de não conseguir ter a oportunidade de se desvencilhar da profissão temporariamente. Às vezes, é importante. E não estamos falando só nas férias. É no dia-a-dia.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.
*Colaborou: Nikolas Mondadori