Carpinejar

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Poeta, cronista e jornalista, autor de 48 livros entre crônicas, poesia, reportagem e infanto-juvenil, duas vezes prêmio Jabuti.

Pior do país
Opinião

Como definir o que é uma água normal em Porto Alegre?

Ela nega sua fama de inodora, insípida e incolor

Fabrício Carpinejar

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Guilherme Gonçalves / Agência RBS
É uma água com cheiro. Cheiro de ferrugem.

A pior água do país deve ser de Porto Alegre. Ando por todo o Brasil na minha peregrinação de palestras e eventos.

Pelo menos, em relação ao seu gosto e aparência. Do filtro, ela sai com gosto de terra.

Ela nega sua fama de inodora, insípida e incolor.

Quem bebe dela jamais esquece.

Dá pena cozinhar um macarrão. O café fica mais alaranjado do que escuro. Tomar banho encarde a toalha branca. Eu penso que os copos estão sujos. Não enxergo o fundo deles.

É uma água com cheiro. Cheiro de ferrugem.

A sensação é que a minha torneira permaneceu desligada por muito tempo. Abri de supetão e vieram junto partículas de ferro do cano.

DMAE sustenta que é própria para o consumo — são realizadas 2,4 mil análises diárias da água de Porto Alegre, dos pontos de captação às sucessivas etapas do tratamento e distribuição.

Minhas dores de barriga dizem o contrário.

Na dúvida, venho comprando galões. O minimercado comemora.

As alterações de gosto e odor são atribuídas à redução natural do nível do Guaíba durante a estação menos chuvosa do ano. Parece que é fase. Parece que é efeito do verão.

Isso que houve o aumento da dose de dióxido de cloro para evitar a estranheza. Se existiu alguma mudança para melhor, não percebi. Transparência certamente não foi.

O sal de frutas leva minutos para se diluir com a colherzinha. A densidade da peculiar H2O não ajuda.

Não há o que fazer. Já é um fato pitoresco daqui encarar a água antes de beber. Assim como se observa um inimigo, um inseto intruso no líquido.

Necessitamos de paciência. Irá passar. Baseamo-nos exclusivamente na esperança. Resta-nos aprender a conviver com as estações dessa matéria-prima de nossas bicas e seguir com a intensa hidratação para combater as temperaturas escaldantes acima de 40 graus, que já causaram o adiamento das aulas na rede estadual.

Na próxima quinta-feira (13), o DMAE vai interromper o fornecimento de água de quatro bairros da Zona Leste. Aproveitará a chegada da frente fria para não prejudicar ainda mais os consumidores. Serão 12 horas de serviço com a regularização à noite. Por bom senso e empatia da prefeitura, a suspensão, programada para terça-feira (11), acabou transferida para um dia mais ameno.

Trata-se da substituição de uma válvula na Estação de Bombeamento de Água Tratada (EBAT) Jardim Ipê, localizada na Rua Comendador Eduardo Secco. A medida atingirá milhares de residentes dos bairros Jardim Carvalho, Boa Vista, Jardim Ipê e Colina do Prado.

O que me provocou surpresa consistiu na advertência aos moradores: se o aspecto da água demorar a se normalizar, o cliente pode solicitar lavagem da rede ou do ramal domiciliar ligando para o fone 156, opção 2.

Porém, como definir o que é uma água normal em Porto Alegre?

Se ela estiver claríssima, é para acessar o atendimento?

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