Eu sempre vou chegar atrasado para minha mãe. Eu desisti de insistir.
Não que eu não seja pontual. Eu sou. Aprendi com a minha irmã Carla a valorizar cada minuto da paciência alheia. Pontualidade é respeito com a disponibilidade do outro. Você leva alguém a sério quando é rigoroso com o que foi acordado.
Se você se atrasa, está sendo arrogante, esnobe, pois acredita que as suas ocupações e responsabilidades são mais importantes do que as das pessoas ao seu redor. Predomina um sentimento de superioridade.
Pontualidade não é apenas educação, é também empatia.
Minha mãe, no entanto, elevou a questão a um patamar diferente. Por mais que eu buscasse lhe agradar e me adaptar ao seu horário cedinho de refeição, eu me dei mal.
Lembro que marquei um almoço para as 12h30, e ela me mandou uma mensagem às 12h dizendo que já estava na recepção. Liguei, aflito:
— Mas, mãe, acertamos para as 12h30?
— Não tem problema.
— Não queria deixar você esperando… Vou correr aqui.
— Estou no banco do jardim.
Para evitar reincidência, eu achei melhor agendar o almoço seguinte para as 12h. Desse modo, não haveria mais confusão.
Não é que ela se antecipou novamente em meia hora, alegando que já se encontrava na recepção?
Pedi que subisse e ficasse dentro de casa, argumentando que ainda iria me atrasar. O termo não poderia ser este: “atrasar”. Eu iria chegar pontualmente, mas ela invertia a situação e criava deslizes na minha presteza.
Ela conseguia gerar culpa mesmo quando eu estava certo, mesmo quando estava coberto de razão.
Exercia em mim uma pressão psicológica, porque eu não tinha me programado para tão cedo. Inclusive eu me localizava numa reunião longe do seu endereço, no lado oposto da cidade.
Disposto a eliminar os ruídos de comunicação e não mais viver sob apertos, eu cometi o exagero de planejar o almoço para as 11h30, apesar de não contar com apetite nenhum no período.
Só que ela não demonstrou compaixão: desceu do apartamento 30 minutos antes, com sua bolsinha de crochê cruzada no peito.
Percebi que, se eu continuasse cedendo, acabaria transformando o almoço em café da manhã.
Não teve jeito. Aceitei a ideia, admiti as batalhas perdidas. Ela me esperou por nove meses para que eu nascesse, e assim deve ter se acostumado a me esperar. Gosta de me esperar.
Mãe é véspera. Mãe é expectativa. Mãe é esperança. Mãe é prece.
A mãe sempre estará nos aguardando antes do horário combinado, seja na janela, seja na recepção. Para nos ver chegando. Para ouvir o barulho da chave no portão.
Quando ela me lia O Pequeno Príncipe antes de dormir, sempre sorria nesta passagem:
“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz”.
Eu perguntava por que ela estava rindo.
Ela explicava:
— É assim que eu sou!
O tempo não passou para ela.