Ninguém quer um bajulador ao lado, porque o bajulador é o que mente no elogio.
Pratica o elogio falso. Pratica o elogio genérico. Pratica o elogio superficial.
É alguém que consegue machucar agradando, ferir com flores.
Talvez, para fugir desse extremo impostor, acabamos admitindo a cultura nociva da crítica.
Talvez realizamos involuntariamente um incentivo exagerado à crítica.
Parece que a amizade e o amor virão de quem tiver a coragem de nos enfrentar, de indicar os nossos podres, de expor as nossas limitações, de desmontar as nossas personalidades.
Olhe o perigo disso, olhe o atalho para relacionamentos dependentes e abusivos.
Dessa forma, o cupido seria desbocado, ofensivo, implicante.
Não, não é verdade. É imensamente cansativo ter um urubu ou um corvo no ombro.
A crítica não é a quintessência da franqueza, como nos ensinam. Os colegas não são autênticos somente quando apontam nossas falhas, como é tradicionalmente apregoado.
Estimulamos, sem perceber, o pior da convivência, de tal modo que evitamos o exercício do elogio, ou o colocamos no patamar da afetação, com rótulo de positividade tóxica.
Elogiar é ser sincero. Elogiar é ser honesto. Elogiar é cuidar. Elogiar é inspirar o seu par a evoluir.
Eu prefiro dividir a rotina com quem me elogia a dar espaço a quem vive me criticando. Não é acomodação, mas amor-próprio. Não é vaidade, mas confiança.
Sou casado com Beatriz porque ela demonstrou ser a pessoa, na última década, que mais me lembrou de minhas virtudes. Ela destaca as minhas conquistas.
Para corresponder às suas expectativas, busco ser um pouco melhor a cada dia. Ela não me pinta como um monstro. Ela não me põe para baixo. Eu não me vejo como uma criatura deficitária, imperfeita, em permanente dívida.
A crítica constante tem a única função de nos paralisar no acúmulo de frustrações. É um covil da inveja ou do ciúme.
Nunca saberemos se aquele que critica não está ansiando pelo nosso lugar. Nunca saberemos se aquele que critica não procura obter uma vantagem.
É difícil uma cobrança desinteressada, uma reclamação construtiva. Na maior parte das vezes, a crítica apresenta o propósito de registrar historicamente a nossa incompetência.
O elogio é edificante, pois nos motiva a trabalhar nossos pontos fortes, ao invés de redundar em nossas fraquezas — até porque os pontos fracos já conhecemos muito bem.
E quem critica não critica ocasionalmente. Sente-se poderoso como tutor de nossos pecados, e jamais para de criticar. Insaciável, sempre encontrará um defeito em nossas atitudes, sempre encontrará um senão em nossas condutas. É como se nunca prestássemos.
A crítica esconde os nossos piores inimigos. São os inimigos íntimos, aqueles que dizem nos ajudar, mas só pretendem se favorecer de algum jeito na concorrência, com o nosso desaparecimento ou anulação de nossa identidade.
São aqueles que falam mal de nós para nós, e continuam falando mal de nós para os outros.
Amadurecer é ignorar dois tipos de companhia: o que diminui o seu esforço e o que empaca a sua vida.