Quando eu me sentei no divã, não estava fazendo terapia só por mim, mas pelos meus pais e meus avós, que nunca fizeram terapia.
Precisava resolver pedreiras de três tempos traumáticos: o meu e o dos meus antecessores.
Integro a primeira geração psicanalisada da família, tendo que arcar com dilemas antigos, tendo que identificar padrões viciados de comportamento, tendo que me expor com coragem, tendo que absorver uma linguagem nova, tendo que aprender a me ouvir na conversa espelhada.
Pois o terapeuta é um espelho da sua alma. A sala dele é o único lugar em que você escuta seus pensamentos. Não é ele que fala, ele devolve a sua fala para você mesmo decidir como deve agir.
O livre-arbítrio é mantido — esse estranho poder da fragilidade.
Meus filhos se consultam naturalmente desde sempre. Iniciaram o tratamento um pouco mais aliviados, não dependendo da missão de desencavar a pré-história da genealogia.
Felizes dos filhos cujos pais já realizam terapia.
No meu atendimento de estreia, infelizmente tardio, aos 30 anos, imaginava que haveria uma caixa gigante de lenços à disposição, que ali eu me banharia de lágrimas.
Não encontrei uma salinha de choro. Pelo contrário, deparei-me com o refúgio do meu contentamento, em que dou gargalhadas. Tudo bem, a maior parte dos meus risos é o de nervoso, mas ainda assim é um riso. Trata-se de um espaço de franqueza e de liberdade, sem censura, sem retaliações, sem o pudor de desagradar.
Eu me divirto com as minhas falhas e imperfeições, o quanto peco pelo excesso de culpa e me perco querendo ter controle sobre tudo e todos.
Acostumei-me a relaxar. E o que me ajudou — e muito — no processo de aceitação foi a almofada.
No consultório do psicanalista, do psicólogo ou do psiquiatra, a almofada é um acessório fundamental. Muito mais do que os guardanapos para os olhos umedecidos. Os profissionais concordarão comigo sobre a sua importância estratégica.
Eu fico com a almofada durante a sessão inteira. Coloco a minha raiva, o meu sofrimento, as minhas mágoas na almofada. Aperto-a com insondável força. Comprimo-a com doçura contra o meu corpo. Uso-a como apoio, como escudo, como mesinha das confissões. Jogo-a no chão ou para longe quando descubro o espinho de uma verdade que estava na minha cara, óbvia, e que eu não conseguia enxergar porque vivia muito à flor da pele.
Em alguns momentos, a almofada é um bebê terno e macio a que ofereço colo, em outros, é um peito firme e seguro onde busco colo.
A almofada é a assistente do analista, seu braço direito para favorecer a nossa catarse, para o desenvolvimento da nossa expressão corporal.
É por ela que o paciente começa a se desarmar dos preconceitos, a se sentir à vontade, a se sentir em casa. O divã passa a criar laços com o sofá da sua residência.
Em vez de assistir passivamente ao filme da sua vida como espectador, você se transforma em protagonista.