Antes reinava a crença de que não poderíamos desistir facilmente de um amor. De que deveríamos protestar, fazer juras, mandar mensagens, não permitir que a pessoa renunciasse o sonho ou o projeto a dois. Batalhava-se arduamente, num patrulhamento invasivo e ostensivo, envolvendo no meio amigos, familiares e colegas de trabalho.
Casamentos experimentavam um vaivém, com brigas na rua e acertos privados incompreensíveis.
Bares e restaurantes tinham sua tranquilidade rompida de repente por barracos e escândalos. Assistia-se a desaforos e declarações veementes com frequência. Havia o costume de lavar, estender e passar a roupa suja em público.
Vigorava uma mentalidade rastejante, marcante até 2010, de que era bonito correr atrás de alguém. Esse comportamento significava um ultimato de modéstia, uma renúncia das aparências, um gesto de coragem.
Carros de som, outdoors e entregas de buquês gigantescos de flores serviam ao propósito de uma segunda chance.
Eu vivi isso tanto no papel de suplicante quanto no papel de alvo das lamúrias.
Tente insistir hoje e será catalogado como um psicopata amoroso. Tente lotar um WhatsApp e será bloqueado. Tente esmurrar a porta ou infernizar no interfone, e virá a polícia.
Os tempos mudaram, felizmente. A valentia virou covardia.
Atualmente entendemos que isso é grave ausência de respeito. O ato unicamente revela uma natureza persecutória, violenta, de opressão psicológica.
Monitorar alguém ou stalkear não é prova de apreço, mas falta de vergonha na cara.
Precisamos absorver dois mandamentos sagrados de convívio:
- Se a pessoa não quer ficar ao seu lado, deixe ir.
- Tampouco permaneça onde você não é desejado.
Talvez você pense que está lutando pelo amor de sua vida, e somente está perdendo o seu valor. Pois se aproxima da intolerância e da autocomiseração.
Já começa não aceitando a escolha do outro, o livre-arbítrio, a capacidade de julgamento do seu antigo par, e termina numa conduta moralmente suicida, de se submeter a qualquer exigência para reatar a relação.
Desesperar-se pelo retorno dos laços, em investidas ansiosas e frenéticas, é se diminuir. Não tem como dar certo.
Mesmo com a reconciliação, haverá uma situação de desconforto e de incessante desconfiança, a consciência de que o seu ex exclusivamente retomou a rotina de modo persuadido e obrigado, não por espontânea vontade.
Só estarão novamente juntos porque você insistiu. Não tem maior humilhação do que dividir o espaço com alguém contrariado, indisposto, ferido.
Você nunca vai saber se a pessoa está com você por favor, por caridade ou por amor. Amor, tenho certeza de que não é, não existe amor unilateral.
Não se cura uma desavença pela presença sufocante, mas pela solidão reflexiva e distanciamento. É fundamental sair de perto para realmente atestar o sincero arrependimento e a mudança de hábitos.
Perdão gritado é chantagem.