Ficamos idealizando, e não saímos do lugar.
Pretendemos oferecer inteira disponibilidade para os pais, e nunca acontece.
Aguardamos um momento livre que jamais chega.
Os finais de semana correm, os feriados voam, o ano evapora.
Só que eu percebi que os pais também gostam de visitas rápidas. Até preferem.
Nem todo dia é para um churrasquinho, mas todo dia pode ser para um chimarrão.
Pensamos equivocadamente que os pais anseiam por uma ou duas horas conosco. Às vezes, sim, em datas festivas. No grosso do calendário, eles se regozijam com uma passadinha.
Tanto que os pais mais realizados são aqueles cujos filhos moram no mesmo bairro, e a comunicação de aproximação é menos solene e costuma se basear na frase “vou dar um pulo aí”.
Eles se mostram contentes com uma maior frequência feita de aparições breves, ao invés de aparições longas cada vez mais raras.
Apareça do jeito possível e imperfeito, para revelar como estão a carreira e os relacionamentos, relatar as novidades, atualizar a semana, dividir as preocupações, e tudo bem. Deixará os “velhos” satisfeitos, informados de seus planos e iniciativas. Não reclamarão de que foram os últimos a ser avisados, de que terminaram descobrindo uma mudança importante em sua trajetória por vias indiretas e fofocas de terceiros.
É que acreditamos que os pais não fazem outra coisa senão nos esperar. Existe um preconceito de nossa parte. Juramos que eles estão sempre desocupados, espiando os nossos vultos na janela. Pelo contrário, suas vidas são tão agitadas quanto a nossa: seus prazos, seus problemas, suas ambições. Não se limitam a tricotar ou assistir televisão em uma cadeira de balanço. Têm seus amigos, seus afazeres, seus intervalos de romance.
Sequer é agradável uma visita muito demorada. Visitas demoradas assustam. Se você permanecer por três horas, certamente eles vão achar que deseja dinheiro emprestado.
Seja mais assíduo a partir de encontros curtos. Estabeleça mais recreios com a sua família. Mais cafezinhos, menos desculpas.
Mateadas já matam a saudade.
Aproveite a sua condição privilegiada de filho antes de dar netos para eles. Pois, quando isso ocorrer, os pais só vão querer saber dos netos.
Caso você surja sozinho, sem as crianças, eles dirão para apenas voltar com elas. Será reduzido à função de motorista, de levar e buscar.
Não procrastine seus afetos. Não brinque com o destino. A omissão dói.
Efetue as contas, uma retrospectiva do seu comportamento recente. Suponhamos que visite seus pais uma vez por mês, e eles já tenham setenta anos. Mantendo essa média e prevendo que eles viverão até os noventa anos, restarão parcas 240 interações. É pouquíssimo para tanto a dizer, tanto a partilhar.
Você mede a existência pela sua juventude, com o relógio andando para a frente, e não enxerga a maturidade dos pais, o relógio andando para trás, a urgência do amor, a contagem regressiva.