O futebol é tirano.
Não existe nenhum esporte que alcance tamanho extremismo selvagem.
Ou é tudo, ou é nada.
Exatamente por essa razão, o poeta João Cabral o comparou com uma arena de toureiros.
A glória flerta com o perigo.
Veja o caso do Atlético Mineiro, finalista da Copa do Brasil e da Libertadores. Potencialmente teria sido seu ano mais emblemático, o mais vitorioso de sua trajetória, mas perdeu as duas finais, e não lhe resta nada para se amparar. Com muita sorte, obterá uma vaga na Copa Sul-Americana de 2025.
O argentino Gabriel Milito amarga um final de temporada melancólico. Dos píncaros da unanimidade, desceu para o inferno do descrédito.
Não ter ganhado nenhum torneio o despiu da imunidade. Agora só são reparados seus erros. Dos últimos 16 comandantes do Galo, somente um teve pior média defensiva. Ao todo, o técnico viu o time levar 75 gols nos 61 jogos em que esteve à beira do gramado. A média, portanto, é de 1,22 por enfrentamento.
Ninguém mais enxerga seus méritos: a proeza de colocar o seu time em duas decisões simultâneas. Será sempre culpabilizado por sua defesa vazada, ou por permitir uma derrota para o Botafogo com um a mais em campo. É o que a história dirá a respeito dele.
O esquecimento é mais rápido do que a lembrança.
Outro caso é o do Fluminense. No ano passado, foi campeão da Libertadores. Nenhum torcedor das Laranjeiras se recorda disso, já que o time corre o risco de rebaixamento.
O que é mais importante: ser campeão da América ou não cair para Série B?
Difícil dilema.
Ainda acredito que ele irá escapar, nem tanto por sua competência, mas pelas limitações de seus concorrentes diretos (Bragantino e Criciúma). Unicamente depende de uma vitória em casa em cima do já desclassificado Cuiabá.
De qualquer forma, experimentou um calvário de intensa penúria e sofrimento que apagou o triunfo recente.
Equipes envelhecem precocemente. Ou seja, é preciso melhorar o que já era bom para ter chances de competitividade.
É a lição que o Inter deve trazer para si: não vender seus principais atletas e agregar opções, em especial para a lateral e para a zaga.
Será uma mágica das finanças após o prejuízo do maior desastre ambiental do Rio Grande do Sul.
O torcedor colorado apenas tem motivos para festejar. Não houve título, mas houve entrega e dedicação. Não houve título, mas houve uma recuperação milagrosa com 16 partidas de invencibilidade. Os dois próximos confrontos contra Botafogo e Fortaleza não são amistosos, representam a possibilidade de um terceiro lugar e o aumento de premiação para R$ 43,3 milhões.
Encontramos o DNA da vitória, o DNA fundamental para pendurar uma faixa no peito.
Não podemos abandonar ou precarizar o trabalho precioso de Roger Machado, Paulo Paixão e D’Alessandro. Não podemos recuar. Façamos de conta que o ano não acabará, que 2025 será 2024, uma sequência, para combater a brutal desmemória do futebol.
A regularidade é o antídoto contra a amnésia.