O professor de Português e prefeito de Canela, Constantino Orsolin, disse que encontrou a receita para proteger as áreas públicas e praças da depredação: as flores. Encher a cidade de canteiros de flores.
As flores atraem fotos de namorados, e as fotos garantem a preservação. Não são profanados os santuários românticos repostados no Instagram. Todo mundo quer voltar para onde foi amado.
O turismo aumenta e a violência diminui, já que aquilo que esperamos de uma cidade é ordem e simetria.
A fragilidade colorida dos jardins impõe mais autoridade do que grades, cercas e muros. Até as pichações se reduziram.
De acordo com essa percepção, as flores não somente embelezam, mas são a escolta da educação. Bons hábitos florescem a partir delas. Você não se aproxima de qualquer jeito, você cuida por onde pisa, você se torna mais atento e cauteloso.
Com a presença de flores, você pensa duas vezes antes de cavoucar um gramado. Com a presença de flores, você pensa duas vezes antes de manchar uma parede ou machucar uma estátua.
De seu perfume, emana a legislação automática da gentileza. Não é necessário proibir. Flores censuram avanços.
Elas também criam uma sensação permanente de fiscalização. Para manter a fachada em dia, existe a ideia de que alguém anda regando, podando, cuidando, olhando por elas para que continuem vivazes e exuberantes.
Passam a ser sinônimo de proteção, provando que o lugar não é abandonado, não é terra de ninguém.
Flores são olhos espalhados, cumprem o papel de câmeras naturais.
Por sua vez, jardineiros são policiais à paisana, guardiões das miniaturas das florestas na cartografia do município.
Talvez por isso que meu livro predileto na infância tenha sido O Menino do Dedo Verde, do francês Maurice Druon, mais do que O Pequeno Príncipe. Na narrativa, o menino Tistu possui o superpoder, a partir de suas impressões digitais, de germinar árvores por onde anda. A obra pós-Segunda Guerra Mundial tinha o propósito de desabilitar canhões com a semeadura.
Talvez por isso seja apaixonado pelo trabalho de paisagismo tropical de Roberto Burle Marx. Ele dizia que conversar com as plantas ajudava o seu crescimento, mas que não custava nada, por precaução, colocar titica de galinha como adubo. Vá que as plantas não escutassem bem.
O entendimento urbano de que as flores não são enfeites tem muito a nos ensinar sobre a vida.
Pois é a sensibilidade que nos protege. Não o escudo, não a couraça, não a frieza, não a indiferença.
Expor pontualmente como nos sentimos, como desejamos ser tratados, é conhecer os próprios limites e respeitá-los.
Chorar, ou nos emocionar, defende-nos como as flores. É a franqueza sábia da fraqueza.
Não se ataca uma pessoa chorando. Não se invade a alma daquele que está em prantos.
Lágrimas são nossas pétalas, e funcionam melhor do que espinhos.
Que as flores nos emprestem seu delicado brilho.