Não há nada mais delicioso na vida do que ter nona e nono por perto.
Minha nona materna partiu cedo, quando eu tinha sete anos. Meu nono mais cedo ainda, quando eu tinha três anos.
Não convivi com eles durante a adolescência. Foi só um pouco da infância, e já transbordaram em mim.
Se você conta com a possibilidade de desfrutar dos avós mais demoradamente, aproveite a dádiva. Não adie encontros: visite, acolha, converse, compartilhe a mesa, as confissões e a varanda.
Nono e nona são denominações afetuosas para quem é patrimônio afetivo da família. Indicam a sabedoria do afeto. Correspondem a promoções da velhice, títulos outorgados àqueles que adoçam o coração.
Minha nona mantinha algumas fixações em seus hábitos. Ao se deparar com qualquer cena bonita, ela queria eternizá-la em porta-retratos:
— Rende um bom postal!
Tanto que ela espalhava as pequenas molduras com cavalete pelas cômodas e estantes. Reunia um museu de seus mortos e vivos pelos corredores, não distinguindo-os entre si, pois o amor reinava sobre o tempo.
Ela também, como gringa genuína de Guaporé, entendia comida como presente. Vivia oferecendo salame, queijo, pão e pêssegos ou figos em calda de aniversário. Montava uma cesta básica para engordar o celebrante. Após suportar duas guerras mundiais, valorizava o alimento como herança. O produto se originava de fabricação caseira, feita pelas próprias mãos. Ela já preparava as encomendas rezando e agradecendo pela nossa saúde.
Da mesma forma, fazia questão de tricotar malhas para as crianças. Com cores vibrantes de Frida Kahlo, destoando dos trajes sóbrios que usava.
Meu primeiro blusão amarelo veio de suas agulhas de plástico. Ela concedia os agasalhos fora das datas festivas, como uma surpresa para enfrentar o inverno.
Não deixava nenhum neto escapar das tarefas domésticas. Não estávamos ali para ser servidos. Diferentemente dos pais, acreditava que a infância se habilitava a ajudar. Ninguém poderia permanecer parado, ocioso, com os pés levantados no sofá.
Despertávamos cedo para retirar os ovos do galinheiro, e nenhum de nós reclamava. Ficávamos horas escolhendo e colhendo os morangos na horta, e nenhum de nós reclamava. Éramos escalados para cortar cebola, tomate, temperinho verde na tábua da cozinha, e nenhum de nós reclamava. Juntávamos achas de madeira para a provisão noturna, e nenhum de nós reclamava. Sua voz nos pedia com tanto carinho que nunca soou como ordem, mas como convite para dividir a intimidade.
Eu dormia feliz por ter sido útil, eu dormia fundo porque eu havia colaborado com todos.
Os avós não são os que permitem tudo aos netos, mas os que disciplinam os netos, desde cedo, a assumir responsabilidades.
Jamais me esquecerei daquele fogão a lenha crepitando no meio da sala, com polentas e queijos na chapa. Ou daquela avó no centro do mundo, aquecendo o meu futuro.
Quando minha mãe voltava para pegar seus quatro filhos, sempre perguntava para a avó Elisa:
— Eles deram muito trabalho?
E ela respondia, com um sorriso bondoso:
— Pelo contrário, eles dividiram o trabalho comigo.
A mãe pensava que ela estava mentindo. Jamais desconfiava que virávamos outras pessoas na casa da nona.