Coudet saiu, mas na verdade ele nunca chegou ao Inter em sua segunda passagem pelo clube.
Em vez de brigar pelo time, brigou com a torcida.
Não era o Coudet que esperávamos.
Veio um outro em seu lugar. Algum duplo. Algum irmão gêmeo de personalidade oposta.
Não era o Coudet campeão argentino pelo Racing.
Não era o Coudet da marcação alta, da saída de bola com qualidade desde o goleiro, da infiltração veloz dos laterais.
O Coudet do cachecol no frio ou no calor, gritando e esbravejando à beira do gramado.
O Coudet do excesso de gols, passional, El Chacho da ópera, dos extremos — ou vitória, ou derrota.
Quem veio em seu lugar foi um técnico morno, apático, acomodado, com ataque magro, mirrado, incapaz de fazer dois gols nas últimas dez partidas, com uma defesa que se destacou por erros bisonhos e passes infantis — em que pesa a sua responsabilidade no posicionamento da zaga.
Em 62 confrontos, ocupou a casamata alguém diferente de sua fama, sem a garra no DNA, sem a resiliência nos momentos cruciais, absolutamente distraído, desperdiçando vitórias ou cedendo derrotas nos minutos de acréscimos.
Apareceu um Coudet que não foi competente para ganhar o Gauchão, que se confunde no mata-mata.
Aquele Coudet que alcançou uma semifinal da Libertadores não deu as caras neste ano. Um Coudet que poderia ter se mostrado herói num estado vitimado pelo maior desastre ambiental da sua história, que poderia ter mobilizado o grupo como nunca antes com o retorno em tempo recorde do Beira-Rio, só que não aconteceu.
Não esteve presente, apesar de receber todas as contratações desejadas, com mais de R$ 80 milhões em dez reforços. Nos cinco jogos mais recentes, acumulou três derrotas com mando de campo e dois empates fora.
Seu aproveitamento de 56,45% é próprio de um comandante mediano, que não se atualizou, que não aderiu ao projeto de títulos.
A direção não teve culpa de acreditar em Coudet. Nós, torcedores, não tivemos culpa de acreditar em Coudet. Coudet que não acreditou em si mesmo e nos abandonou pela sua desmotivação, pelo seu esmorecimento.
Vejo como substituto ideal Abel Braga, o nosso campeão mundial, o nosso Abelão, o nosso pai, a nossa estátua, o nosso líder, o nosso colorado encarnado, nosso pé de arruda, nosso bruxo, nosso feiticeiro, nosso xamã, nosso pajé, nosso milagreiro.
Se Renato Portaluppi é o mais carioca dos gaúchos, Abel Braga é o mais gaúcho dos cariocas.
Só ele para salvar o mês decisivo de Copa do Brasil e Sul-Americana.
Corrigiremos o carma de tê-lo dispensado depois do vice-campeonato brasileiro em 2020, título roubado naquela rodada derradeira com o Corinthians, naquela expulsão sem sentido de Rodinei com o Flamengo. No Prêmio Brasileirão 2020, promovido pela CBF, ele foi eleito o melhor treinador do campeonato. Ainda assim, seu contrato não foi renovado.
É a chance de Alessandro Barcellos retificar uma ingratidão, pôr a nossa grandeza novamente nos trilhos.
Abel aposentado é melhor do que esse Coudet na ativa.
Felipão deixou a aposentadoria. Por que Abel não faria o mesmo? Tenho certeza de que ele jamais recusaria o convite. Até porque, para ele, não seria um convite, mas uma missão.